Abriu a porta puto. O suor escorria pela testa.
– Deu. Pra mim deu. Nunca mais.
– Que isso, Diego? Nunca mais por quê?
– Nunca. Nunca mais.
– Para de ser mole, primeira vez que foi na academia.
– E última.
– Você pagou caro no personal trainer.
Tirou os tênis e jogou no meio da sala.
– Olha aqui, Danilo: pagar pra alguém gritar com você enquanto você agoniza pra morrer não é coisa de gente normal. Eu vou pedir meu dinheiro de volta.
– O cara tá ajudando, é o trabalho dele.
– Aquilo não é ajudar, não. Ajudar é chamar a ambulância, não é começar a gritar “VEM, MONSTRO!”, “AQUI É TANQUINHO, PORRA!”, “BORA FICAR TRINCADÃO!”.
– Ele estava tentando animar você, dar estímulo.
– Danilo, começou a sair sangue do meu nariz. Formou uma poça de sangue no chão, na minha frente, eu parei assustado e ele gritou “MULHERZINHA! SE PAROU É MULHERZINHA!”.
– Qual era o tamanho dessa poça de sangue?
– Grande o suficiente pra fazer um lago. E não parou por aí, depois disso me faltou ar, eu deitei e ergui os braços pra pedir socorro. Ao invés de me socorrer, ele chegou do meu lado e começou “PAGA MAIS DEZ! QUERO VER MAIS DEZ!”. Queria dar mais dez mãos na cara dele. Babaca.
– Bom, pelo jeito o ar voltou.
– Acho engraçado, Danilo, que você fica nesse sofá tirando da minha cara mas não levanta a bunda pra ir lá treinar também.
Ao invés de me socorrer, ele chegou do meu lado e começou ‘PAGA MAIS DEZ! QUERO VER MAIS DEZ!’. Queria dar mais dez mãos na cara dele. Babaca.
– Faz quanto tempo que a gente tá junto?
– Você sabe muito bem há quanto tempo.
– Quatro anos, certo? E em quatro anos, quantas vezes eu já falei pra você que detesto academia? Quem quis ir atrás de personal foi você.
– Fui de tanto você reclamar do tamanho da minha barriga.
– Fica na frente da TV quando a gente tá deitado, Diego, é impossível não reclamar. Mas não mandei você malhar, mandei você trocar de lugar na cama.
– E eu entendi a indireta. Mas quero que se foda, não volto mais lá.
– Tudo bem.
Deitou no chão e ficou com os braços abertos olhando para o teto.
– Depois ele ainda tentou me fazer comer batata enquanto eu pedalava na bicicleta ergométrica. Chegou enfiando uma colher com batata doce na minha boca de repente, “Ó O CARBO, Ó O CARBO”. Quase vomitei.
– E o que você fez?
– Dei um tapa na colher e saí correndo de lá. Não volto mais. Não atendo mais ligação desse cara, não respondo e-mail, nada. Acabou.
– Você não tá exagerando um pouco?
Levantou e colocou as mãos na cintura.
– Ninguém grita comigo, Danilo! Não pago pra ninguém gritar.
– Mas…
– Na verdade, eu pago, sim.
– Diego, você não tá fazendo sentido.
Começou a procurar as chaves.
– Se for pra gastar dinheiro com gente maluca gritando comigo, tem que valer cada centavo. E é isso que vai acontecer agora: vou fazer valer a pena. Cadê a chave do carro?
– Di, calma.
Encontrou.
– Pronto, tá aqui.
– Onde você vai?
– Jantar na casa da minha mãe. A louca mora longe, mas cozinha bem.