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Home Crônicas Helena Perdiz

Anjinho

porHelena Perdiz
19 de abril de 2018
em Helena Perdiz
A A
"Anjinho", crônica de Helena Perdiz.

Imagem: Reprodução.

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Entrou no consultório, colocou a caixinha na mesa.

– Em que eu posso ajudar?

– Eu preciso que você faça alguma coisa com esse cachorro.

– Certo, me explique melhor. Como ele chama?

– Anjinho. Preciso que você leve ele embora, dê um fim, não sei.

– Como?

– Ele tá com o demônio no corpo, não dá mais.

– Mas o que exatamente tem de errado com ele?

– Tudo! Destruiu a minha casa inteira, quebrou até o telhado.

O veterinário olhou pra dentro da caixa de transporte.

– Senhora, é um pinscher. Ele tem o tamanho de um ratinho.

– Mas a fúria é de cachorro grande.

– Como ele destruiu o telhado?

– Subiu lá de madrugada, nem sei por onde.

– Mas…

– Outro dia ele entrou na geladeira e não deixava ninguém pegar comida, a gente abria e ele rosnava.

– Quê?

– Eu preciso de paz, eu não tenho mais paz!

– Olha, pinscher é uma raça meio chatinha mesmo, mas ele pode estar estressado com alguma coisa.

– Estressado? A gente trata ele que nem rei. Já faz uns seis meses que ele dorme na minha cama com o meu marido e eu durmo no sofá, porque de noite ele deita lá e a gente não consegue tirar.

– Vocês precisam ser mais firmes.

– Você precisa me salvar.

Abriu a porta da caixa.

– Em primeiro lugar, eu vou ensinar como ser firme com o Anjinho. Você é quem tem que estar no controle. Olha aqui como você tem que segurar.

O cachorro grudou no braço do veterinário. Ele puxou o braço cheio de sangue e fechou a porta novamente.

– Eu preciso de paz, eu não tenho mais paz!
– Olha, pinscher é uma raça meio chatinha mesmo, mas ele pode estar estressado com alguma coisa.

– É, ele é um pouco bravo.

– Endemoniado. Tô falando.

– Tudo bem, vou chamar um assistente pra me ajudar.

– Dou cinco mil pra você ficar com ele.

– Senhora…

– Cinco mil reais. Pode fazer o que quiser com ele.

– Cachorro é um membro da família, você precisa tratar como se fosse seu filho.

– Meu filho eu já expulsei de casa, era um vagabundo.

– A senhora não entendeu.

– Cinco mil. Vamos fechar?

– Eu não posso aceitar uma coisa dessas, posso ajudar você a cuidar melhor dele, para que ele se acalme.

– Cinco mil não devem ser nada pra você, né? A consulta é 300 reais. O que mais eu posso oferecer?

O assistente entrou na sala e abriu a porta da caixa.

– Deixa só a gente examinar ele, depois conversamos melhor.

O cachorro pulou no colo do assistente, na cabeça do veterinário e se pendurou no lustre do consultório.

– Deus do céu!

– Ah, em casa eu nem tenho mais lustre, ele quebrou todos.

Anjinho saltou para a cadeira e começou a girá-la.

– Me ajudem aqui, eu paro a cadeira e vocês dois seguram ele.

O cachorro desceu antes que pudessem segurá-lo. Começou a andar devagar, lançando um olhar ameaçador a todos.

– Ninguém se mexe. Ele tá rosnando, ninguém se mexe.

– Era assim que ele fazia na geladeira. Não dá medo?

– Eu acho que a gente vai ter que chamar o bombeiro.

– Não fala que é o Anjinho, que eles não atendem mais.

– Minha nossa senhora! Como ele subiu ali?

– Nunca sei, ele aparece em cima dos lugares.

Anjinho estava em cima da parte mais alta da prateleira. Começou a derrubar tudo o que havia nela. Depois se jogou na mesa.

– Meu notebook!

– Vixe, ele não gosta de notebook, viu? Os de casa sumiram todos.

– Ele jogou no chão!

– Ele joga, depois esconde. Cê vai ver, é muito rápido.

Anjinho pulou no chão, entrou sozinho na caixa de transporte e deitou. O veterinário fechou a porta.

– Cadê meu notebook?

– Falei que era rápido.

– Eu nunca vi uma coisa dessas!

– Eu sei.

– A senhora tá de carro?

– Estou.

– Então vamos.

– Onde?

– A gente vai levar esse cachorro para um padre.

Tags: AnjinhocachorroCrônicaVeterinário

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