Entraram na quadra da Escolinha Pimpolho e sentaram-se ao fundo da arquibancada.
– Eu falei pra gente chegar mais cedo, não vai dar pra ver nada desse lugar horrível.
– O celular tem zoom, não tem problema.
– É a primeira dança da nossa filha, se fôssemos bons pais nós estaríamos sentados na fileira da frente, com ou sem zoom.
O Maternal II entrou em fila e se posicionou numa explosão de fofura. Os pais foram ao delírio.
– Olha que linda que ela tá!
– Minha menina! Coisa fofa!
– Tá filmando?
– Claro que eu tô. Olha lá, ela viu a gente, acena.
– Ela tá sem um sapato?
A música começou.
– Ela tá sem um sapato!
– Mas onde tá o sapato, meu Deus?
– Na mão dela. Tá na mão dela, Glauber! O que a gente faz?
– A gente assiste a nossa filha dançar sem um sapato.
– Glauber! Os pais vão ficar comentando. A gente precisa fazer alguma coisa.
– Ninguém vai reparar, Nathália. Cada pai só olha pro próprio filho.
– Quando todas as crianças estão calçadas.
As crianças dançavam em sincronia. Nem todas.
– Glauber!
– Somos péssimos pais.
– Sem um sapato e paralisada! Olha lá, todas as crianças dançando, só ela parada, eu não tô acreditando.
– Eu falei, não falei? Eu disse que era pra ter ensaiado com ela em casa.
– Vai cagar, Glauber! Você disse pra eu levar a menina ensaiar só pra tirar a Galinha Pintadinha da TV. Você queria assistir a Orange is the New Black.
A menina saiu correndo em disparada pela quadra, enquanto os outros pequenos dançavam.
– Minha. Nossa. Senhora.
– Acho que eu vou parar de filmar.
– E se a gente for até lá?
– Nathália, você quer mesmo chamar mais a atenção pra esse desastre? Eu não quero aparecer no YouTube, ela tem mais tempo pra superar isso do que a gente, deixa a menina viralizar na Internet sozinha.
– É verdade.
Nathália, você quer mesmo chamar mais a atenção pra esse desastre? Eu não quero aparecer no YouTube, ela tem mais tempo pra superar isso do que a gente, deixa a menina viralizar na Internet sozinha.
A mãe começou a dançar da arquibancada, chamando a filha, para que ela a imitasse.
– Ela nem olha pra mim.
– Parou! Melhor parada do que correndo.
– Olha lá, abraçou a amiguinha!
– Nathália, eu acho que ela tá tentando dar um mata-leão na amiguinha.
– Mata-leão, Glauber? Ela não sabe nem o que é isso.
– ELA TÁ PUXANDO O CABELO DA MENINA!
– Puta que pariu, ela levantou o sapato. Ela vai bater na menina com o sapato, Glauber! Nossa filha é um monstro.
– Nathália, dá a mão.
– Quê? Por quê?
– Dá a mão e vem. A gente não vai ficar aqui.
Ficaram em pé, as pessoas em volta olhando.
– Mas e o YouTube?
– A gente não tá indo pra quadra, nossa filha é um caso perdido. A gente tá indo salvar a nossa reputação.
– E tá indo onde, então?
– Pra casa. Depois a gente volta pra buscar a monstrinha.
– Tá. A gente manda um Uber.