Escolheu pagamento em dinheiro.
– Vinte reais e noventa e nove centavos, senhora.
– Só um minuto.
Começou a procurar a carteira na bolsa: nada. Apoiou a bolsa no balcão.
– A senhora precisa de ajuda?
– Só um momentinho, moça, não tô achando minha carteira.
– Cancelo a compra?
– Não, pelo amor de Deus, eu tô morrendo de fome! Não cancela, eu vou achar.
Tirou um estojo de maquiagem, uma conta de energia elétrica, um massageador de cabeça e uma pelúcia de gatinho de dentro da bolsa e foi colocando item por item no balcão.
– A senhora pode procurar ali do lado? As pessoas da fila também estão com fome.
– Calma! Não preciso esperar do lado, eu já vou achar.
Uma calculadora, um hand spinner, um carregador de celular, um pacote de jujubas, um vidro de acetona, um fone de ouvido, uma sanduicheira elétrica, um Blu-Ray do Reginaldo Rossi, tudo em cima do balcão. Nenhuma carteira.
– Cancelo a compra?
– Não, pelo amor de Deus, eu tô morrendo de fome! Não cancela, eu vou achar.
– Senhora, por favor.
– Por favor, eu! Eu que peço por favor! Tenha paciência, eu acho que me roubaram.
A atendente balançou a cabeça.
– Próximo.
– Próximo uma ova! A próxima sou eu, porque eu ainda não encerrei meu pedido.
– A senhora encerrou e não pagou, logo, precisa dar lugar para quem vai pagar.
– Só saio daqui carregada!
Virou a bolsa para baixo e começou a chacoalhá-la em cima do balcão. Caiu de tudo ali, menos a carteira. A atendente chamou o segurança.
– É ela, ó. A cliente que não paga e não sai da moita.
– Não tem nada de moita, eu fui roubada! Você deve saber quem me roubou, por isso não quer ajudar.
Começaram a se ofender. O segurança tentou intervir, mas as duas não paravam de gritar. Reginaldo Rossi foi o primeiro a sair voando para o outro lado do restaurante.
– E se você não parar com a graça eu jogo a sanduicheira também!
– Você tira a mão das minhas coisas, sua bruaca! Dá aqui a jujuba, você não vai comer minha jujuba.
A fila toda assistia, sem reagir, à funcionária abrir o pacote de jujubas e virá-lo de uma vez na boca.
– A-do-ro jujuba.
– Eu vou chamar a polícia!
O segurança, que já tinha desistido de ajudar, estava observando a discussão há meia hora e, naquele momento, olhou para a mão da cliente. Apontou para ela.
– A carteira!
– Minha carteira!
A atendente começou a rir descontroladamente.
– Estava na sua mão! Na sua mão!
– Não pode ser.
– O tempo todo! Você procurando na bolsa mas a porra da carteira estava na sua mão!
– Não é possível. Alguém colocou aqui agora.
A funcionária deitou no chão para rir. Enquanto isso, a cliente recolhia seus pertences e guardava cada um.
– Eu vou ser demitida, mas vai ter valido muito a pena!
– Você pode levantar e cobrar pra mim, por favor? Eu ainda não encerrei a compra.
Levantou do chão, pegou o dinheiro e entregou o pedido.
– Volte sempre! Sempre que quiser passar vergonha.
– Aguarde meus advogados.
A cliente pegou a bandeja e foi para uma mesa, brava. A atendente deixou o avental no balcão e foi para casa, rindo.