Chegou no prédio e viu um caminhão de bombeiros estacionado em frente à torre do seu apartamento. Olhou para cima: a fumaça estava saindo de sua janela. Subiu correndo.
A porta estava aberta e o marido veio correndo abraçá-la.
– Jonas, você tá bem? O que aconteceu?
– Eu queimei a pipoca, Márcia.
– Quê?
Márcia colocou as duas mãos na cintura.
– Por que você não fez no micro-ondas?
– Eu fiz.
– Quê?
Entrou no apartamento, emputecida. Os bombeiros a receberam com um sorriso amarelo.
– Puta que pariu! Você destruiu a cozinha!
– Não fui bem eu, foi o micro-ondas.
– Como pegou fogo no armário?
– Depois que o micro-ondas explodiu, o fogo subiu pra cortina, daí da cortina passou para o armarinho e de lá subiu para o armário maior.
– Mas então a gente vai precisar falar com a fabricante, vamos pedir indenização. Porque não tá certo isso, Jonas.
– Também acho que não.
– Como pode você apertar a tecla “Pipoca” e o aparelho explodir? Não tá certo!
– Tem uma tecla “Pipoca”?
– Jonas, eu vou matar você, seu velho estúpido.
– Por que você não fez no micro-ondas?
– Eu fiz.
– Quê?
O cachorro entrou saltitante na cozinha.
– O Adamastor tá bem?
– Tá, ele estava dormindo lá na sala quando aconteceu. Deu uma latidinha e voltou a dormir.
– Ele devia saber que, vindo de você, só podia ser merda. Fez bem. Quanto tempo você colocou pra estourar essa coisa?
– Nem foi tanto, Marcinha, duas horas.
– Duas horas? Meu Deus do céu! De onde você tirou esse tempo?
– Eu achei que tinha colocado dois minutos e fui assistir TV.
– Mas nem um e nem outro, Jonas! Nenhum tempo era o certo. Era só pesquisar.
– Eu não sabia onde. Na embalagem só tinham umas letrinhas muito pequenas.
– Não, não, desse jeito não vai dar.
Pegou Adamastor no colo, se despediu dos bombeiros e voltou para a cozinha.
– Agora a gente vai arrumar essa desgraça, Jonas.
– Deixa comigo, pode ir descansar e eu limpo tudo.
– Não tô falando da cozinha, tô falando de você.
– Nossa, Márcia!
– Pega o computador e traz aqui. Você vai aprender a usar o Google. Agora!