Atendeu o celular.
– Alô.
– A senhora deixou o gás do seu apartamento aberto.
– Oi? Quem é? É o porteiro?
– É o porteiro.
– Eu vou até aí desligar. Me dá cinco minutos.
– Não dá tempo.
– Pede pro zelador arrombar minha porta!
– Não adianta mais.
– Como não? O que aconteceu?
– O prédio explodiu.
– QUÊ?
– Explodiu.
Começou a tremer.
– Como assim explodiu? O prédio inteiro?
– Não foi o prédio inteiro, só a sua torre.
– Meu Deus! Minha torre inteira?
– Sua torre inteira. Não tinha ninguém dentro, só o gato daquela moça.
– Eu matei o gato da moça?
– Matou.
– Eu não acredito!
– Acredite, morreu.
Começou a chorar.
– Não dá tempo.
– Pede pro zelador arrombar minha porta!
– Não adianta mais.
– Eu matei o gato da moça!
– Mas o resto tá tudo certo, o seguro vai cobrir.
– Ninguém vai trazer o gato de volta!
– Não, o gato, não.
Levantou. Sentou de novo.
– E o que eu faço agora?
– Acho que é bom dar uma rezadinha.
– Pelo gato, sim. Mas e pelo prédio?
– Não tem mais prédio, senhora.
– E você me ligou só pra jogar isso na minha cara durante o meu trabalho?
– É que a polícia tá aqui e precisa do seu depoimento.
– Eu nem estava aí.
– Mas o apartamento é da senhora.
– E como você sabe que o gás estava vindo do meu apartamento?
– O vizinho do lado veio avisar que estava sentindo o cheiro lá do apartamento da senhora, daí já explodiu enquanto ele estava aqui. Foi bonito de ver, nunca imaginei que era assim. Muita fumaceira.
Ficou um tempo sem responder.
– Posso ligar daqui a pouco? Preciso processar tudo o que está acontecendo.
– Não dá, a polícia tá aqui. Se a senhora não vier, eles vão aí buscar a senhora, acho que dá até cadeia.
– Cadeia? Não tem nada de cadeia. Manda eles virem, então. Eu não tô em condições de dirigir.
– Certo, só um momento que eu vou falar com eles, dona Maria.
– Maria?
– Desculpa, Maria Aparecida. Esqueço que não pode falar só Maria.
Colocou uma das mãos na cintura.
– Meu nome é Ofélia!
– Ofélia?
– Ofélia.
– Não é a Maria Aparecida do 302?
– Não.
– Tem certeza?
– Olha, tenho.
– Mas que estranho, tá o seu número aqui.
– Você tá ligando da portaria de qual prédio?
– Edifício Marmota.
– Não é o meu prédio. Sei nem onde fica.
– Poxa vida! Então desculpa, foi engano.
Desligou.