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Home Crônicas Helena Perdiz

Testemunha de Jeová

porHelena Perdiz
25 de maio de 2017
em Helena Perdiz
A A
"Testemunha de Jeová", crônica de Helena Perdiz.

Imagem: Reprodução.

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Ouviu palmas no portão. “Vendedor ou Testemunha de Jeová”, pensou. Foi até a janela, parecia vendedor.

– Não quero comprar nada, obrigado.

– Mas o que eu trouxe é de graça, meu jovem.

– Uia, grátis? O que é?

– São palavras de luz.

– Vixe. Não sei em qual deus você acredita, mas tô sem tempo, agradeça a ele.

– Tudo bem, tenha um ótimo dia.

Fechou a cortina. Abriu novamente.

– É assim? Você vai desistir?

– Respeito ao próximo, jovem. Não vou conversar com quem não quer.

– Mas eu não disse que não quero, disse que não tenho tempo. Você poderia falar que sempre há tempo pra ouvir as palavras do “todo poderoso”, qualquer coisa assim.

– Você quer ouvir o que eu tenho a dizer?

– Talvez. Mas não tenho tempo.

– Tudo bem.

Virou as costas e começou a atravessar a rua.

– Ô! Como assim? É sério, mesmo? Você vai desistir pela segunda vez?

– Não tenho porque insistir, jovem.

– Porra! Como não? É o que você acredita que tá em jogo, cara. Nunca vi Testemunha de Jeová que vira e vai embora desse jeito. Mesmo que eu não queira saber, tem que rolar aquela insistida. Eu não sei nem como lidar com essa situação, você indo embora logo de cara, é quase contra as leis da natureza.

– Não sou Testemunha de Jeová.

– Crente? Viking?

– Porra! Como não? É o que você acredita que tá em jogo, cara. Nunca vi Testemunha de Jeová que vira e vai embora desse jeito. Mesmo que eu não queira saber, tem que rolar aquela insistida. Eu não sei nem como lidar com essa situação, você indo embora logo de cara, é quase contra as leis da natureza.

– Nada disso, o que eu tenho pra falar não envolve religião. É muito maior do que qualquer deus.

– Cacete, velho. O que é?

– Você não está sem tempo para ouvir?

– Talvez eu tenha tempo porque talvez eu tenha um trabalho imenso pra entregar e talvez eu esteja procurando motivos pra enrolar. E se algo maior que um deus colocou você aqui pra facilitar isso, por que não?

– Então venha aqui fora, por favor.

Foi até a garagem e ficou do lado de dentro do portão.

– Tá, pode falar. Tô curioso.

– Como é o seu nome, jovem?

– Tom.

– Tom, na vida a gente precisa ter foco, força e fé.

– Sim, já aprendi isso no Facebook da minha tia.

– Se você acredita em si mesmo e é persistente, você pode tudo.

– Ok. Você realmente não vai tentar me vender nada, né?

– Não, Tom. O conselho é gratuito! O que você vai fazer com ele é escolha sua.

– Tá bom, então.

– A gente tá aqui pra isso: pra ajudar você a alcançar seus objetivos e trazer a luz que você precisa para ter força enquanto faz este caminho difícil.

– E o caminho seria qual?

– O do emagrecimento.

Colocou as duas mãos na cintura.

– Você tá de brincadeira comigo.

– Não, Tom. Nós, da Ervavida, estamos aqui para ajudar pessoas como você a enfrentarem o seu maior medo: o da balança. Nossas cápsulas naturais ajudam a combater a fome e a dar energia para que os exercícios físicos e a alimentação saudável entrem para a sua rotina.

– Você tá de sacanagem.

– É tudo verdade! Tenho aqui este folheto, pode pegar, você vai entender melhor sobre o nosso trabalho. Temos uma reunião hoje, às 20 horas, ali do outro lado da rua, na casa 182. Vamos disponibilizar alguns produtos para que a vizinhança conheça. Como eu disse, o conselho é totalmente gratuito!

Continuou com as mãos na cintura e começou a bater o pé, nervoso.

– Olha aqui. Olha só. Eu sou um idiota, é essa a definição. Um estúpido.

– Tem alguma dúvida, jovem?

– Não. Tá tudo bem claro, bem claro.

– Ótimo!

– Eu só quero aproveitar pra dar um conselho pra você também.

– Pode falar.

– Vai pra puta que pariu.

Tags: crenteCrônicaJeovájovemportãotestemunha de jeovátrabalhoviking

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