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Home Crônicas Henrique Fendrich

A gralha e os eros de revisão

porHenrique Fendrich
10 de abril de 2019
em Henrique Fendrich
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Imagem: Reprodução.

Imagem: Reprodução.

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(Revisor: deixar “eros” no lugar de “erros”. Deixar este aviso também).

Uma gralha, se o leitor não sabe, é bem mais do que uma ave aparentada ao corvo. É, também, o nome que se dá na imprensa a um erro tipográfico ou de digitação que a revisão deixou passar. E como são terríveis esses erros que a revisão deixa passar! Eles já aconteciam no tempo do império, se considerarmos como verdadeiro o caso acontecido com o próprio Dom Pedro, vítima não de uma, mas de duas gralhas consecutivas.

De acordo com a história, o imperador andava adoentado, mas já estava melhor, tanto que havia dado alguns passos pelo quarto amparado por duas muletas. Essa era a notícia, mas o que saiu publicado foi que ele andou amparado por duas “maletas”. O caso em si não apresentava maior gravidade, só que se tratava do imperador, então era melhor consertar isso na edição seguinte. Foi quando publicaram uma errata em que se dizia que o imperador havia dado alguns passos amparado por duas “mulatas”.

Caso muito semelhante teria ocorrido anos mais tarde, ao se noticiar o aniversário da rainha da Inglaterra, chamada inicialmente de “bainha” e, na errata, de “tainha”. Às vezes é melhor nem corrigir.

O jornalista Dieno Castanho, em artigo ainda da década de 1950, selecionou mais alguns casos em que os erros de revisão entraram para o anedotário. A melhor gralha de todas foi quando a banda da Força Pública Paulista visitou Campinas. A banda era regida pelo maestro Antão, o que fazia com que fosse conhecida também como “Banda do Maestro Antão”. Ao se referir ao sucesso da visita da banda à cidade, um dos jornais de Campinas estampou na capa, em uma fonte bem grande: “Muito apreciada em Campinas a bunda do maestro Antão”.

Ao se referir ao sucesso da visita da banda à cidade, um dos jornais de Campinas estampou na capa, em uma fonte bem grande: “Muito apreciada em Campinas a bunda do maestro Antão”.

Outra gralha muito boa aconteceu por ocasião de um necrológio em um jornal do Rio de Janeiro. O sobrenome do morto era “Sardinha”. Depois de enumerar filhos e netos, o jornal encerrava dando os seus sinceros pêsames “à família enlatada”.

Certa vez o escritor Orígenes Lessa escreveu em uma crônica que Dom Nuno Álvares tinha “o hábito de Cristo” e “foros de fidalgo”. No jornal, no entanto, saiu o “hálito” de Cristo e “faro” de fidalgo. Mas isso aí talvez nem seja gralha, e sim um revisor achando que sabia mais do que o próprio escritor. Foi também essa presunção que, certa vez, fez com que um “coro sacro” se tornasse um “couro seco”.

Ouvi do próprio Renato Toniolo, colunista social em Curitiba, uma gralha que, por pouco, não o leva ao exílio. Foi no tempo do regime militar. Ao falar sobre um “baile do Chopp”, Toniolo relatou que um certo general faria a sangria do barril. No outro dia, recebeu uma ligação do próprio general. “Bom dia, general”, cumprimentou. “Bom dia nada, seu vagabundo!”. Foi quando descobriu que o jornal havia publicado que ele faria a sangria do “Brasil”. Deu uma confusão danada para desfazer o equívoco e Toniolo já podia se ver fugindo para o Uruguai.

Uma gralha bem conhecida aconteceu com o Machado de Assis, que escreveu no prefácio das suas “Poesias Completas” a frase “a tal extremo lhe cegara o juízo”, mas foi publicado “lhe cagara o juízo”. Seja dito em favor do revisor que o sentido foi mantido.

E para que se não diga que isso só acontece no Brasil, cito uma ótima gralha ocorrida em um texto em inglês sobre Beethoven. Lá trocaram um deaf (surdo) por dead (morto) e o texto ficou assim: “Estar morto não impediu em nada Beethoven de se recuperar rapidamente e continuar com sua música. Claro, foi muito mais difícil. Mas ele conseguiu”.

Que homem.

É melhor eu concluir. Quanto menos eu falar, menor a possibilidade de erro. Se por desventura aparecer alguma gralha, é coisa da revisão.

 

Tags: CrônicadigitaçãoerrosgralhaimprensaJornalismorevisãotipografia

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