Deus, de certo foi Deus, se é que não foi o acaso, porque se foi o acaso eu não tenho a quem me dirigir. “Oh, forças cegas da natureza…”. Acho que não, né? Há também aquela possibilidade que às vezes se aventa, a de que vivemos em uma realidade virtual, mas isso só passa a questão para outra instância. Eu não quero falar com o programador desse joguinho maluco, mas com o criador dele. Deus, ou quem tenha começado com isso tudo.
Dirijo-me a ti porque tenho algumas dúvidas que, se não você, ninguém mais pode tirar. Vamos lá. Houve um dia em que não havia nada, certo? Isto é, você já existia, mas não existia ainda o Universo (o primeiro Universo, caso tenha criado mais de um). Mas, de repente, houve alguma coisa (literalmente).
Eu não estou interessado nos meios, nos processos para a coisa toda surgir, mas sim no objetivo. Por que era preciso que houvesse alguma coisa em vez de nada? Certamente, não foi pela sua necessidade, um Deus que cria Universos sente falta do quê? Teria sido por nossa causa, seres pensantes que podem refletir sobre a própria existência? A vida, nos dizem, é um presente, uma dádiva, e assim toda a criação seria um grande gesto de amor, mas, poxa, quanto sofrimento ela encerra!
Eu não estou interessado nos meios, nos processos para a coisa toda surgir, mas sim no objetivo. Por que era preciso que houvesse alguma coisa em vez de nada?
De certo você já sabia que seria assim, antes da primeira explosão, ou da primeira flutuação quântica, do que quer que tenha sido, você já conhecia as consequências. E, mesmo assim, achou que valia a pena. Você dirá que o homem sofre por conta da sua própria liberdade, e dirá bem. Somos livres para fazer todo o mal que desejarmos, e somos terrivelmente inclinados a fazê-lo. Havia uma única possibilidade de não sofrermos, que era também a de que não existíssemos. Mas você achou que devíamos existir e, possivelmente, existir para sempre. Deve ter pensado em meios de amenizar nossa dor. Jesus, todos os profetas. A uns apedrejamos, a outros corrompemos. Pergunto-me se a comunicação não podia melhorar.
Isto é, um sujeito sofre, sente-se impotente diante do seu problema. Resolve falar contigo, espera ouvir uma resposta e uma direção, mas não consegue ouvir nada. O que acontece nesses casos? Ele não cumpriu os requisitos necessários para poder se comunicar contigo? Sem esses requisitos é impossível ouvir o que quer que seja? Acaso o Senhor é alemão e, mesmo diante de visível aflição, não consente em quebrar as regras e se fazer ouvir? É preciso ser Madre Teresa ou Mahatma Gandhi para obter algum tipo de resposta? Aí o sujeito não ouve, o desespero aumenta, ele toma uma medida drástica: irá tirar a própria vida. Ah, então todas as religiões concordam que ele vai penar muito, isso não se faz, tem que ficar aqui sofrendo.
Também gostaria de saber se procede aquela história de vidas passadas. Nesse caso, gostaria que me explicasse qual a vantagem de não se lembrar de nada. Existe de fato um roteiro para a nossa vida, do qual chegamos a tomar parte antes de nascer? Neste caso, o que aconteceu com o projeto daquele rebento da família Hitler? Ah, a liberdade, sempre a liberdade. Só não temos a liberdade de entender por que estamos aqui e o que devemos fazer com nossas vidas. Por favor, receba bem o Chris Cornell.