Acho uma coisa muito bonita que os jornais, pelo menos no interior, ainda mantenham uma coluna chamada “Pretendem se casar”. E, embaixo deste título esperançoso e meio incerto, vai arrolada a lista daqueles que já deram início aos trâmites para, enfim, viver uma vida em comum. Eu lia justamente o nome dessas pessoas, na esperança de identificar conhecidos, quem sabe um velho amigo, pois estamos todos em idade de se casar, ou um parente distante, ou pelo menos alguém que eu soubesse vagamente quem era e que me faria pensar com graça “veja só quem está prestes a se casar”. E de repente meus olhos passam pelo nome daquela que um dia eu tanto amei.
Recebi o golpe com naturalidade. Muito tempo já havia se passado e não restava mais nenhum desejo, nenhum ciúme ou despeito. Era natural que ela crescesse, conhecesse pessoas, se interessasse por uma em especial e, um belo dia, medidas todas as consequências deste grave ato, pretendesse se casar. É isso que agora avisa o jornal, para toda a cidade, mas sem deixar indícios de que um dia eu também fiz parte desses planos.
E de repente meus olhos passam pelo nome daquela que um dia eu tanto amei.
Ah, nós haveríamos de nos casar. Foi no tempo em que a gente começava a se amar antes mesmo de trocar as primeiras palavras. Cada olhar trazia consigo uma promessa de eternidade. Havia rubor na face, pois o amor ainda era um segredo, e apenas os mais íntimos sabiam que já havíamos escolhido com quem passar o resto da vida. Se por aquela época alguém insinuasse que ela viria a se casar com outra pessoa, eu o chamaria de verme infame e o desafiaria para um duelo. E, no entanto, hoje ela pretende se casar, e não é comigo…
Olho para o seu nome no jornal. Sei sobre ele detalhes que nem o redator, nem o escrivão, nem o padre sabem. Do contrário, teriam omitido o nome do meio dela, do qual ela nunca gostou. Ao menos o sobrenome eles escreveram certo. Quer dizer que ela pretende se casar? Faço muito gosto e já estou me preparando para as próximas leituras da coluna “Nascimentos da Semana”.