Minha mãe sempre diz que a previsão do tempo só não é menos confiável do que o horóscopo. Acho que, com exceção dos meteorologistas e dos astrólogos, todos concordariam com ela. Cada um de nós já foi e ainda é continuamente enganado pela previsão do tempo. Falam em chuva e não cai uma gota, preveem sol e desaba uma tempestade, dizem que fará calor e morremos de frio. No outro dia, o apresentador da previsão do tempo dirá que foi ele próprio surpreendido pela “mudança brusca” do tempo e fará normalmente a previsão do dia seguinte.
Uso um aplicativo que sempre me pareceu acertar bem mais do que os outros o clima que irá fazer. E ontem ele previa apenas 25% de probabilidade de chuva. A minha mãe, contudo, usa outra fonte, na qual se dizia que a chance de chover era de 90%. Ora, a confiança no meu aplicativo é tal que, se o céu ficar escuro, se começar a trovejar, se os pássaros estiverem voando baixo, mas ele disser que não vai chover, então não vai chover. Ignorei então a fonte da minha mãe e resolvi sair para pedalar.
Depois de meia hora, estando eu a oito quilômetros de casa, senti que caía uns pingos. Nada muito forte, mas mesmo assim eu resolvi parar um pouco em um ponto de ônibus, pois certamente isso logo iria passar. Aproveitei para descansar, para beber um pouco de água, certo de que, em breve, poderia retomar o meu passeio. Escutava a chuva batendo no telhado da parada e assim notei que a intensidade, em vez de diminuir, começou a aumentar.
Isso me aborreceu um pouco, mas, de toda maneira, eu tinha ainda muito tempo livre, poderia ficar parado ali um bom tempo esperando, evitando me molhar. Mas o tempo foi passando, o dia começou a escurecer e achei que era bom eu começar a voltar para casa. Na verdade, eu tinha um guarda-chuva na minha mochila, mas é coisa muito difícil de usar andando de bicicleta. Resolvi seguir o rumo de casa usando o guarda-chuva e empurrando a bicicleta. No caminho, certamente iria parar de chover.
Ah, não parava de chover. E era bem desconfortável caminhar daquela maneira, segurando o guidão com uma mão e o guarda-chuva com a outra.
Ah, não parava de chover. E era bem desconfortável caminhar daquela maneira, segurando o guidão com uma mão e o guarda-chuva com a outra, e alguma parte minha sempre estava descoberta, os braços, as costas, e isso sem falar nas poças que havia nas ruas e calçadas e nas quais eu, com espantosa diligência, sempre dava algum jeito de pisar e de encharcar os pés. Lembrei do meu celular, eu já detonei um celular durante um banho de chuva, não era minha intenção fazer isso de novo, então direcionava o guarda-chuva para cobrir o bolso em que ele estava.
Ainda estava longe de casa e mais do que nunca eu desejei que eu fosse um espírito e pudesse me locomover com a força de pensamento, ah, é muito cansativo ser um corpo, você quer chegar a algum lugar e precisa arrastar junto esse “saco de pele, sangue, cabelo, carne, ossos e tubos”, como chama o Vonnegut, e não se concede uma exceção nem mesmo se é um dia de chuva, quase noite, e você está empurrando uma bicicleta muito longe de casa, não, não concedem, tem que percorrer toda a distância, passo a passo, um de cada vez, por mais que isso demore.
Embora a experiência me desagradasse, eu evitava me irritar, esbravejar contra Deus e o mundo, porque, de certo, havia alguma justiça nisso tudo, de certo eu tinha uma porção de pecados que precisariam ser pagos, havia, no mínimo, o pecado da soberba que me fez acreditar em um aplicativo de previsão do tempo, de modo que então eu estava meramente colhendo o mal que havia plantado.
À certa altura, a chuva não diminuindo mais, dei-me conta de que, se não subisse em cima de bicicleta, ficaria na rua o resto da noite. Era preciso, ao menos, diminuir o tempo do tormento, então comecei a pedalar e a guiar a bicicleta com uma só mão, porque a outra tinha o meu guarda-chuva, o que era inclusive um risco, e ao meu lado passavam outros ciclistas, sem guarda-chuva nenhum, de certo achando muito idiota aquele sujeito que não podia se molhar um pouco, será que ele é feito de açúcar? Ah, eu não queria uma gripe, sobretudo no tempo do corona.
Já estava escuro, eu andava em uma ciclovia, mas via pouco à minha frente, quase trombei duas ou três vezes com pessoas, com ciclistas e com placas, mas Deus achou que aí seria demais, só a chuva já estaria bom para expiar as minhas culpas, então nada aconteceu, mas ainda levou tempo até chegar em casa, onde minha mãe me recebeu:
– “Não vai chover”, né?