Sábado era dia de acordar despreocupado, não havia aula, não havia tarefa para fazer. Era dia em que o pai ficava em casa. A gente ligava o aparelho de som, colocava um CD para tocar – sábado! Tinha mais tempo para brincar, mas o sábado também era dia sagrado, dia de ir à catequese, ouvir de Jesus. O reino dos céus era de crianças como eu. A catequese começava logo depois do almoço e o pai levava de carro. Terminava às duas horas, que era quando começava a Missa das Crianças. Sábado era dia de Missa das Crianças, isso mesmo antes de eu entrar na catequese. Aí também era o pai que levava. Ele gostava de um cântico sobre os passarinhos que costumava tocar durante o ofertório. Eu preferia aquele “O Senhor é Santo, Ele está aqui”. Mas no tempo da catequese eu ia sozinho à Missa das Crianças, ou melhor, ia junto com meus colegas. Tinha um que se chamava Maico ou Maicon, era um grande amigo. Acabou a catequese e nunca mais o vi.
Eu não podia ficar até o final da Missa das Crianças, sempre tinha que sair uns cinco minutos antes. Isso porque eu precisava pegar ônibus, e o ônibus para o bairro onde eu morava só saia uma vez por hora, se perdesse o das três tinha que ficar esperando até as quatro. Havia aprendido que não se podia sair da Missa antes de ouvir a bênção do padre. Mas às vezes a Missa atrasava, o padre se enrolava na homilia, chegava a hora de eu ir embora e nem sinal da bênção. Esperava o máximo que desse, depois saia correndo desesperado para não perder o ônibus.
No sábado parecia que tinha um gosto especial, uma sensação de liberdade maior – era bom viver.
Sábado também era dia de ir à locadora. Era uma das mais excitantes atividades do sábado. Uma infinidade de desenhos animados para escolher, nunca sabia direito o que pegar. Depois eu comecei a emprestar cartuchos de vídeo game – e tudo era a mesma excitação. No sábado o pai também passava na banca de jornal e comprava uma revista em quadrinhos para mim – um Tio Patinhas, um Mickey, Pato Donald. O jornal de domingo saía ainda na tarde de sábado, e era aquele calhamaço, cheio de cadernos especiais, guia da TV e tudo mais. Eu folheava tudo.
Na rua, tinha as brincadeiras, é claro, brincadeiras que a gente fazia todo dia, jogar bola, andar de bicicleta, mas no sábado parecia que tinha um gosto especial, uma sensação de liberdade maior – era bom viver. Futebol de botão também, no sábado eu com o meu pai adiantávamos o nosso campeonatinho particular, sem que nunca tenhamos chegado a concluí-lo. Lembro dos sucos que a minha mãe fazia, certamente não era apenas no sábado que ela fazia suco, mas é no sábado que eles se encaixam melhor, suco de limão, suco de guaraná, suco de infância, suco com os sabores de sábados que não voltam mais.
E no fim do dia, na noitinha, cortar as unhas – até isso eu lembro que acontecia nos sábados, até isso torna saudosos os sábados daquele tempo. Eu ainda não sabia cortar as unhas sozinho, era canhoto, desastrado, deixava então que a minha mãe cortasse, no fim do dia, na noitinha de sábado – a rosa da semana. Depois vinha a noite, depois vinha a lembrança de que o dia seguinte ainda era o domingo, outro dia sem aula, sem fazer nada aborrecido. E dormíamos na paz, com a certeza de que o sábado só podia mesmo ter sido criado, santificado pelo Senhor.