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Home Crônicas Henrique Fendrich

Solidoscopia

porHenrique Fendrich
31 de agosto de 2016
em Henrique Fendrich
A A
"Solidoscopia", crônica de Henrique Fendrich.

Imagem: Reprodução.

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A solidão de um homem pode ser medida através de uma simples endoscopia. Não digo que ela apareça como resultado do exame – embora eu suspeite que a solidão fique próxima ao estômago. Mas as circunstâncias que envolvem essa endoscopia são capazes de revelar o maior ou menor grau de solidão da pessoa. Explico. Não é bom que o homem fique só, mas muitos deles buscam justamente isso. E às vezes conseguem verdadeiras proezas. O homem é capaz de morar sozinho por toda uma vida. É capaz de viver para sempre isolado do resto da humanidade – ser um eremita! Consegue se sustentar e até mesmo se divertir sem ninguém por perto. Duas coisas, no entanto, o homem ainda não consegue fazer sozinho: reproduzir a espécie e fazer uma endoscopia.

E não adianta insistir: se você não tiver um acompanhante, não deixarão que faça o exame. As enfermeiras sabem que, quando terminá-lo, você irá ficar tão grogue que mal conseguirá sair de lá. É por isso que exigem a presença de alguém ao seu lado – afinal, elas são moças ocupadas e, infelizmente, não podem te acompanhar até a sua casa. E é por causa dessa exigência que a endoscopia revela a solidão de uma pessoa.

Se a pessoa morar com os pais, não há com o que se preocupar. Certamente um deles estará com você durante o exame. Se a pessoa for muito idosa, é bem possível que um filho esteja acompanhando todo o tempo. Não sei como funciona para os casais, mas receio que não seja tão óbvio assim. Ora, nem sempre é possível se livrar do trabalho. A mulher pode estar fazendo uma endoscopia e homem pode estar impedido de ir até lá – e vice-versa. Acho que estou sendo meio pessimista – e nada romântico.

Duas coisas, no entanto, o homem ainda não consegue fazer sozinho: reproduzir a espécie e fazer uma endoscopia.

Mas vamos imaginar que o leitor não more com os pais – mais do que isso, mora em outra cidade, longe, longe, dos seus pais e de toda a família. Imaginemos ainda que, neste momento, o leitor não está comprometido com ninguém, nem minimamente – eu sei que é triste, mas estamos apenas imaginando. Faltou dizer que o leitor é jovem. Mora sozinho. Tem amigos, claro. Mas não tão íntimos a ponto de se falarem todos os dias. E, por uma dessas coisas da vida, aconteceu que lhe pediram para fazer uma endoscopia, e você fica sabendo que o exame só sairá caso alguém esteja disposto a te acompanhar.

Que fazer? Você começa a cogitar pessoas e logo descarta algumas – sabe que no horário do exame estarão perdidamente ocupadas com outros negócios. Entre os que sobraram, muitos também não podem. Por fim, você encontra uma pessoa que se disponibiliza a ajudar. Mas no fundo você sabe que está causando um incômodo para ela. Precisará acordar mais cedo – e, na noite anterior, ela precisará dormir tarde – em pleno sábado, dia em que pretendia descansar ou realizar coisas domésticas. Mas vá lá – você precisa desse sacrifício da parte dela. E ela realmente irá, embora atrase um pouco.

Ao terminar o exame – que você jura não ter feito – ela ficará com você numa salinha à parte, esperando diminuir o efeito do sedativo. Depois de alguns minutos, ela te guiará até o carro. Conversarão um pouco. Em seguida, te levará para casa. Fará algumas boas recomendações, e em seguida te deixará – está cheia de coisas para fazer, afinal. E você, como mora sozinho, volta a ficar só. Mas, dessa vez, ninguém te exige a presença de uma outra pessoa. Seria tão bom se exigissem!

Tags: Crônicaendoscopiasolidão

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