Chega um dia em que a pessoa está dormindo tão mal, e as causas parecem tão difíceis de determinar, que o médico manda que ela faça uma polissonografia. O nome assusta, mas não se enganem: é pior. Uma polissonografia é uma noite que você dorme em uma clínica para que eles vejam com os próprios olhos como é que você dorme em casa. Querem saber se você ronca, se range os dentes, se mexe as pernas, enfim, que diabos você está fazendo para dormir tão mal assim. É claro que eles não farão isso no olhômetro, eles vão te encher de fios por todo o corpo e monitorar em uma máquina. É uma longa noite.
As preocupações começam ainda em casa, na hora de tomar banho, porque não dá para lavar o cabelo com qualquer xampu não, tem ser que ser um xampu neutro. E nada de usar spray, gel, condicionador. A sua cabeça deve estar bem limpinha e seca, senão não segura os milhares de eletrodos que irão colocar nela. E trate de fazer a barba, porque também terá eletrodos na sua cara e no seu pescoço. Se for mulher, não pode usar maquiagem e nem esmalte. Favor se livrar também de todas as bijuterias. A polissonografia não tolera as vaidades humanas.
O processo de colocar eletrodos é tão demorado que, não fosse a dificuldade para dormir, o paciente acabaria pegando no sono.
Você vai ter que levar junto a roupa para dormir, porque o pessoal lá não vai deixar você dormir pelado ou só de cueca. De preferência um pijama aberto na frente ou que tenha uma gola larga, porque, você sabe, também vão colocar eletrodos no seu peito. Leve junto uma toalha, porque depois você terá que tomar banho ou pelo menos lavar a cabeça, para tirar toda aquela gosma que eles usam. Travesseiro normalmente eles têm lá, só leve se você estiver acostumado a dormir mal com o seu próprio travesseiro. E então vá, meu filho, vá para a clínica.
Eles vão te levar para um quarto, um quarto geralmente tão bonito e bem arrumado que você considera a possibilidade de alugá-lo. Lá pelas nove da noite começam a enfiar eletrodos em você. É peito, é perna, é o fim do caminho. Muito comum nessa hora que você e a enfermeira fiquem enroscados. É que ainda não inventaram a polissonografia Wi-Fi. O processo de colocar eletrodos é tão demorado que, não fosse a dificuldade para dormir, o paciente acabaria pegando no sono. Depois que você deita, ainda colocam um grampo no seu dedo e mais uns fios no seu nariz. Então apagam a luz e, antes de sair, dizem “boa noite”, o que deve ser o cúmulo do cinismo.
Não bastasse estar com os movimentos limitados pelos fios, ainda te colocam para dormir às dez da noite. Quem é que dorme às dez da noite? Aí você vira de lado e descobre uma maquininha que monitora seus batimentos cardíacos. Vira do outro, para não ficar vendo aqueles números vermelhos, e começa a prestar atenção no barulho do ar-condicionado. Será que é normal esse barulho? Vira de lá, viro de cá, até que consegue: tira um fio do lugar. Imediatamente soa um alarme de incêndio e surge um enfermeiro para arrumá-lo. Depois que ele sai, você começa a pensar se fez xixi suficiente para a noite. Instantaneamente, fica com vontade de ir ao banheiro, mas ir como, entubado daquele jeito? Resolve segurar. No quarto ao lado alguém ronca, há mais gente fazendo o exame. O tempo passa e você não dorme. Quem consegue dormir, nessas condições, não precisaria ter feito o exame.