Ao receber o Oscar de melhor filme, por Nomadland, no último domingo, a atriz norte-americana Frances McDormand, uma das produtoras do belo e melancólico longa-metragem da cineasta chinesa Chloé Zhao, fez um pedido. Disse a quem via a cerimônia, realizada em uma estação ferroviária na cidade de Los Angeles, a Union Station, que todos deveriam assistir no cinema às produções que disputaram o prêmio. Referia-se, em seu discurso, à experiência de estar em uma sala escura, sem interferências, diante da tela grande. Algo mágico, que faz muita falta nestes tempos pandêmicos.
Frances, que na mesma noite receberia sua terceira estatueta de melhor atriz, vitória que dela fez a segunda mais premiada na categoria, atrás apenas de Katharine Hepburn, pensava como produtora, mas também como artista. Falava do que os pesquisadores da área chamam de espectatorialidade, ou seja, referia-se também ao campo dedicado aos estudos voltados a esse personagem único e indispensável quando se pensa em cinema: o espectador.
Ao receber o Oscar de melhor filme, por Nomadland, no último domingo, a atriz norte-americana Frances McDormand, uma das produtoras do belo e melancólico longa-metragem da cineasta chinesa Chloé Zhao, fez um pedido. Disse a quem via a cerimônia, realizada em uma estação ferroviária na cidade de Los Angeles, a Union Station, que todos deveriam assistir no cinema às produções que disputaram o prêmio.
O discurso da estrela, que possivelmente não gosta de ser chamada dessa forma, pois sempre se manteve a certa distância da ribalta, me emocionou. Veio em tom de apelo. Como ela mesma disse mais tarde na festa, ao vencer como melhor atriz, após citar Macbeth, de William Shakespeare (“Eu não tenho palavras, minha voz está em minha espada”): “Sabemos que a espada é nosso trabalho, e eu gosto de trabalho”. A frase ressoa o que Fern, a protagonista de Nomadland, também afirma em um momento da trama, quando lhe perguntam por que não se aposenta. O pedido feito pela atriz é para que vejam filmes, e não apenas o dela, como em um ritual.
Passado mais de um ano sem por os pés em uma sala de exibição, mas vendo muitos filmes, talvez até mais do que antes da pandemia, sinto falta do que chamarei de mergulho sensorial que é estar dentro de um cinema, acompanhado de outras pessoas. Fez falta esse pacto coletivo compartilhado, que pode envolver a suspensão da descrença, voar em outra dimensão, nem que seja para imergir na dura realidade de quem vaga sem teto ou certeza de trabalho pelas estradas, em busca de pertencimento, como os habitantes nômades do filme de Chloé Zhao.