Os olhos ainda brilham. Ele tem muito a dizer, mas se contém. É prudente, talvez até cauteloso, e evita falar alto demais. Quem desejar ouvi-lo, conhecer suas ideias, dará pistas. Uma delas será a atenção, que pode vir acompanhada de silêncio, ou não. Pouco importa. Saberá reconhecer o interesse genuíno no que guarda para a hora certa. Ainda é cedo.
Os ombros pesam um pouco, porque anda cansado de tanto falatório, da verborragia típica de quem não pensa antes de despejar opiniões não solicitadas. Ele tem dificuldade em lidar com gente assim, que borbulha palavras contundentes, frases de efeito, usadas como bijuteria barata, roupa vistosa, porém de má qualidade, que se desfaz na primeira, segunda lavagem. Olha ao redor e a vulgaridade por todo o canto o angustia e a melhor decisão é recuar. Por enquanto. São dias nublados.
Os ombros pesam um pouco, porque anda cansado de tanto falatório, da verborragia típica de quem não pensa antes de despejar opiniões não solicitadas. Ele tem dificuldade em lidar com gente assim, que borbulha palavras contundentes, frases de efeito, usadas como bijuteria barata, roupa vistosa, porém de má qualidade, que se desfaz na primeira, segunda lavagem.
A realidade tem o alfinetado. Ele se percebe como um boneco de vodu, crivado de maus pensamentos. Sente o corpo perfurado pelo veneno de quem se recusa a ouvir, repetindo um mantra infindável de verdades sob encomenda, nas quais eles passam a acreditar por pura conveniência. Quer distância dessa ladainha, da religiosidade de ocasião. A fé, o amor à pátria e a sede por justiça lhe parecem ensaiadas. Sente-se mergulhado no roteiro de filme ruim, uma colagem feita às pressas, sem alma, repleta de emoções baratas.
Resolve, então, fazer longas caminhadas. Andar pelas ruas do Centro. Quanto mais cheias melhor. Gosta do barulho, que, ironicamente, o acalma. A angústia que ele anda sentindo cede, aos poucos, ao apelo dos sons da cidade. A vida continua e é mais forte do que o receio que por vezes o invade. Os olhos voltam a incendiar, o peito se enche de esperança e a vontade é de gritar. Decide apenas escutar. Reduz a velocidade dos passos, porque não deseja que o tempo passe. Percebe ter medo do futuro que que está por vir, ao virar a esquina. Nos próximos dias, meses, anos. Neste instante, ele respira fundo e espera.