Há uma singular elegância em quem fala devagar, como se buscasse no fundo de um lago de opções vocabulares a palavra certa, a frase mais precisa, ou verdadeira. São, hoje em dia, cada vez mais raros aqueles que, rejeitando a fácil opção de disfarçar a falta de conteúdo com um turbilhão de ideias que nem sempre se conectam, optam pela pausa. Ou mesmo pela hesitação, que não é uma falha. Pelo contrário: demonstra o genuíno esforço de não lançar mão de frases feitas, prêt-à-porter, que podem ter lá seu impacto sobre espíritos mais superficiais, mas pouco dizem passado o impacto do que é dito sem pensar.
Há uma singular elegância em quem fala devagar, como se buscasse no fundo de um lago de opções vocabulares a palavra certa, a frase mais precisa, ou verdadeira.
Tendo a confiar mais em quem, de alguma forma, sente-se à vontade em ficar quieto, a ouvir, e a perceber o que ocorre ao redor, absorvendo o que os outros têm a dizer, antes de decidir se vale a pena ou não transformar em palavras aquilo que lhe ronda os pensamentos. Escutar demanda atenção, curiosidade, e muita sabedoria, pois revela que nem tudo precisa ser dito – o ouvinte atento poucas vezes sai perdendo, porque se serve do mundo sem pressa, o saboreando, e muitas vezes aprendendo. Já quem fala demais parece estar sempre a correr atrás do prejuízo. Tropeça na própria ansiedade.
Conheço quem atropela com palavras seus interlocutores, a quem negam não apenas espaço para também espalhar suas ideias. São, de certa forma, figuras patéticas. Apavora-me mais, sobretudo, quem não parece ter interesse, ou vontade, de ouvir o outro, porque o subestima. Não o julga capaz de surpreender, ou acrescentar. Isso é de uma pretensão infinita, e de uma ausência absoluta de cortesia e sensibilidade.
Rendo-me, assim, a quem, navegando contra a maré da velocidade, fala de menos, espaçadamente e se impõe como uma nota dissonante que se faz ouvir por subverter a lógica do excesso, que soterra a sutileza.