“Bom dia!”. Há muita, e insuspeita, beleza nesse singelo cumprimento, que quase sempre anuncia a possibilidade de uma aproximação ou recomeço. Muitos, no entanto, o economizam, o guardando no fundo da garganta, como uma possibilidade, que muitas vezes emudece antes de ganhar voz.
Quando vivi nos Estados Unidos, onde as pessoas não têm muito o hábito de fazer contato visual umas com as outras por razões culturais, fui surpreendido com a maneira como interpretavam meu (para eles) estranho hábito de olhá-los nos olhos, ainda que fossem desconhecidos.
“Bom dia!”. Há muita, e insuspeita, beleza nesse singelo cumprimento, que quase sempre anuncia a possibilidade de uma aproximação ou recomeço. Muitos, no entanto, o economizam, o guardando no fundo da garganta, como uma possibilidade, que muitas vezes emudece antes de ganhar voz.
Recebia cumprimentos: “Bom dia!”, “Como vai?”, “Oi!”. Talvez desconcertados com minha ousada, e até inadequada, forma de fitá-los, faziam, quase sem exceção, absoluta questão de pessoalizar ainda mais meu passo algo involuntário em direção a eles. Pensando bem, a reação, ainda que igualmente instintiva, faz bastante sentido, pelo menos para mim.
Existe uma profunda humanidade no ato de não apenas identificar, mas também reconhecer a existência do outro. Manear com a cabeça, sorrir com intenção, olho no olho, soltar um “Tudo bem?”, dar “Bom dia!”. Ao entrar em um elevador, em uma sala repleta de pessoas, ainda que pouco conhecidas, dividir um mesmo ponto de ônibus ou táxi.
Esses simples gestos despretensiosos nos retiram de uma espécie de bolha na qual fingimos viver em lugares públicos, como se tivéssemos à mão o (por vezes) tão desejado manto da invisibilidade de Harry Potter, capaz de nos proteger de uma pessoalidade indesejada, e nos proporcionar um pertinente anonimato.
Há quem me cumprimente, pessoal ou virtualmente, com regularidade, quase todos os dias. Há nessa atenção, aparentemente protocolar, um cuidado, uma manifestação de respeito, não apenas por mim, e procuro retribuir e multiplicar o gesto, apesar de ser um assumido distraído (boa desculpa!). Há, nesse instante de aproximação, também uma manifestação de apreço por nossa compartilhada condição humana, nos fazendo menos só.
Por essas e outras, “Bom dia!”.