Peço licença para falar da delicadeza.
Não me refiro àquela protocolar, sinônimo de boas maneiras, de etiqueta, que sem dúvida tem sua importância em determinados contextos, mas diz respeito ao caráter mais performático do convívio social do que ao verdadeiramente existencial. Polidez pode ser um bom disfarce para a crueldade, afinal de contas.
Aqui, refiro-me a um outro significado desse substantivo, mais ligado a tudo aquilo que reside nos detalhes talvez insignificantes, ainda que significativos, como olhares que se mantêm, toques que revelam pessoalidade, pausas na fala, pequenos gestos rotineiros de gentileza, cuidados que dedicamos aos que nos cercam. Por vezes sem a expectativa de reciprocidade.
Temo, às vezes, que estejamos vivendo dias em que essa delicadeza tenha de certa maneira se perdido, ou se dissolvido, em nome de um certo senso de pragmatismo utilitário, e tosco, que impregna quase todo tipo de relação no Brasil de hoje. Qualquer ato ou atitude parece ter um objetivo, uma finalidade, a obtenção de algum tipo de vantagem.
Temo, às vezes, que estejamos vivendo dias em que essa delicadeza tenha de certa maneira se perdido, ou se dissolvido, em nome de um certo senso de pragmatismo utilitário, e tosco, que impregna quase todo tipo de relação no Brasil de hoje. Qualquer ato ou atitude parece ter um objetivo, uma finalidade, a obtenção de algum tipo de vantagem.
O corpo, como meio de comunicação fundamental para todos nós, vem sendo utilizado como um instrumento para a veiculação de dizeres que muito pouco se conectam com a alma, e acabam traduzindo uma certa leviandade generalizada, uma desfaçatez com os sentimentos de quem não seja útil dentro de um plano de ação pré-definido. Sempre acompanhado de julgamento apressado e de uma preocupante incapacidade de se colocar no lugar do outro.
E, vejam bem, nada tenho contra os desejos da fisicalidade, fundamentais para a existência dessa delicadeza da qual ando a sentir falta. Esses vêm das profundezas, e não devem ser subestimados por estarem ligados ao universo das sensações.
Creio que a crise que observo neste país indelicado passa pela flexível ética do dia a dia, pelos valores humanistas, que andam valendo tão pouco, submetidos a um senso de praticidade, de utilitarismo, muito tosco. Grosseiro e sem empatia, compaixão.
Peço licença para falar da falta que a delicadeza faz.