O que fazer quando uma utopia se estilhaça? Essa pergunta ecoa, incomoda, na insistência deliberada em não mais se discutir o assunto com ninguém, já que parece esgotado no vazio da guerra surda entre os que nada desejam ouvir. Só despejar certezas, inúteis diante de um cenário tão sombrio, desolador. Melhor, então, seguir calado, a aguardar o nevoeiro dissipar-se, para que, talvez, novos caminhos surjam, e se possa prosseguir em busca de novas toadas, de alguma alento que venha de outras paragens. O mar, aqui, secou.
Mas dói pensar naquele momento em que se apostou no sonho, com a vontade, quase convicção de que ele poderia concretizar-se. A utopia, por algum tempo, tornou-se terra à vista, um território visível a olho nu. Uma paisagem bela e promissora, onde poderíamos, no plural, ser mais e melhores do que no singular. E desembarcar, com os pés na agua morna do oceano, para desvendá-la, e nela mergulhar com a certeza de que poderíamos fincar raízes, por gerações. Foi, por um momento prolongado, uma possibilidade concreta, tangível.
O que fazer quando uma utopia se estilhaça? Essa pergunta ecoa, incomoda, na insistência deliberada em não mais discutir o assunto com ninguém, já que parece esgotado no vazio da guerra surda entre os que nada desejam ouvir.
Mas e se tudo não passou de uma miragem, uma dissimulação? Essa incerteza é corrosiva, desestabilizadora. Seria ingênuo não acreditar no delírio, porque ele é, afinal, essencial à criação, à transformação. É imprudente a esta altura, no entanto, subestimar os falsos profetas, capazes de nos conduzir rumo à escuridão de seus próprios interesses, das suas vaidades santificadas. A nós, cabe o despertar.
O vazio deixado pelo desaparecimento da utopia é imenso. Uma cratera profunda, agora repleta apenas de incertezas e alguma esperança em forma de semente não germinada, escondida no fundo da terra, que aguarda uma chuva redentora.