Hoje, durante uma aula sobre direitos humanos, ministrada a estudantes de Jornalismo, eu me percebi tocado por um conceito sobre o qual já havia falado algumas vezes antes, mas ele nunca pareceu fazer tanto sentido quanto nesta manhã de novembro. Na tentativa de explicar aos alunos o que seria “empatia imaginada”, sobre a qual a historiadora norte-americana Lynn Hunt discorre em seu livro A Invenção dos Direitos Humanos (2009), publicado no Brasil pela Companhia das Letras, disparei: “Vai além de se colocar no lugar do outro. É desenvolver a capacidade de perceber um outro diverso de nós, distante do nosso cotidiano, e percebê-lo, ainda assim, como parte da realidade em que vivemos, parte de nós”, foi o que disse na tentativa de trocar em miúdos as palavras da autora.
Eu me dei conta que meu pensamento, o que falava, vinha de um lugar mais profundo.
Fiquei sensibilizado ao perceber que muitos estudantes sentiram-se instigados pelo conceito – não há nada mais estimulante para um professor do que vislumbrar, de alguma forma, que o que antes parecia ter apenas a frieza da teoria começa a borbulhar sob a forma de ideias, de mãos levantadas, de histórias trazidas à tona pelos alunos na tentativa de encontrar na vida como ela é sentidos para palavras por vezes complexas, saídas das páginas de uma obra de referência.
Hoje, durante uma aula sobre direitos humanos, ministrada a estudantes de Jornalismo, eu me percebi tocado por um conceito sobre o qual já havia falado algumas vezes antes, mas nunca pareceu fazer tanto sentido quanto nesta manhã de novembro.
“Empatia imaginada” significa, aprendi hoje entre os muros da escola, que não precisamos acordar todos os dias às 4 da manhã e pegar duas, três conduções rumo ao trabalho, às vezes de pé, em ônibus, metrôs ou trens lotados, para compreender o sofrimento vivido por milhões de brasileiros todos os dias. E, se nesses meios de transporte coletivos, você for mulher, e sentir no corpo e na alma violência verbal e física, abusos naturalizados por uma sociedade machista, todos nós, de alguma forma, somos feridos, ultrajados. Ainda que jamais tenhamos sofrido qualquer forma de assédio. A doença não é de um ou outro: é um pouco de todos nós como sociedade.
Os direitos humanos estão acima de fronteiras geográficas e culturais. É ter comida na mesa, mas também diversão e arte. Prevê a liberdade de expressão, de ir e vir, e também de amar como e quem quisermos. Educação, saúde, saneamento, moradia, segurança, dignidade. “Empatia imaginada” é se ver no outro, ainda que esse outro seja invisibilizado, excluído e, propositalmente, calado.