O envelhecimento e a morte são tabus em uma sociedade como a brasileira, que festeja a juventude a qualquer custo, mesmo quando ela se torna sinônimo de imaturidade crônica e negação, algo patética, dos efeitos do tempo. Os anos não deveriam, em tese, ser um fardo, até porque a alma e o coração, para muitos, acompanham os ponteiros de um outro relógio, bem menos lógico e muito mais subjetivo. Há, todavia, que se entender melhor a finitude, inevitável, para que ela seja mais naturalizada, e o amadurecimento vivenciado de maneira mais plena. Mas nem sempre isso é possível.
A vida, por vezes, é interrompida cedo demais. Abruptamente, de forma tão covarde, que uma certa revolta, decorrente da perplexidade, é inevitável. Na última sexta-feira, meu pai perdeu sua companheira de três décadas em um quase estalar de dedos. Como ela era vinte anos mais nova, ele tinha certeza de que partiria antes. Enganou-se.
O envelhecimento e a morte são tabus em uma sociedade como a brasileira, que festeja a juventude a qualquer custo, mesmo quando ela se torna sinônimo de imaturidade crônica e negação, algo patética, dos efeitos do tempo.
Regina era uma baiana que parecia saída de um romance de Jorge Amado: ao mesmo doce e firme, tinha uma amorosidade sempre atenta, maternal, mas jamais passiva em sua candura. Devo a ela a longevidade de meu pai, que, ironicamente, terá de aprender a viver sem ela. Cozinheira de mão cheia, era capaz de, quase num passe mágica, preparar um banquete de quitutes de sua terra como quem prepara um café da tarde. Um carinho manso com perfume de dendê.
Quando alguém parte assim, de repente, questionar o sentido da vida é mais do que uma tentação. Vem como uma resposta filosófica ao vazio deixado por quem sai de cena. Esse desaparecimento súbito, chocante, é um amargo lembrete de como a maior parte de nós pouco ou nada compreende sobre a morte, ainda que seja uma certeza absoluta.