Uma orquídea tão minúscula que parece inventada. Um pingo ínfimo de tinta que surge como um desafio aos olhos mais cansados. Pede esforço, em troca de uma beleza do tamanho de uma lasca de unha. Um suspiro materializado que transforma a vida em forma, pétala, haste. Verdade natural que quase não é, mas transforma o dia.
A visão dessa flor improvável, porque alheia ao mundo do que se sustenta no que ostenta, é uma provocação. Diz, como em um sussurro: “preste atenção no que quase não é, porque ali, escondido entre formas perfeitamente esculpidas por um deus miniaturista talvez esteja a resposta para um enigma gigantesco”.
Uma orquídea tão minúscula que parece inventada. Um pingo ínfimo de tinta que surge como um desafio aos olhos mais cansados. Pede esforço, em troca de uma beleza do tamanho de uma lasca de unha.
A existência não precisa sempre do gesto largo, do arrebatamento, do que se expande. A manifestação desse sopro pode se dar em um olhar discreto, ainda que intenso, movimento por vezes invisível, mas capaz de desnudar algo tão essencial, profundo. Nada é igual a partir daquele momento.
A minúscula orquídea é o instante que suspende o tempo e subverte a ordem sem alarde porque anuncia a ideia de uma beleza inesperada, porém tão aguardada, às vezes por toda uma vida. Frágil, mas potente como tudo que brota sem pedir licença. Como a esperança de uma vida em estado de amor.
Conseguir percebê-la é uma benção. Guardá-la nos olhos sem possui-la, uma escolha. Ela existe e isso basta.