Pneus no asfalto molhado. Chuva intermitente em uma manhã que deveria ser de quase verão, mas não é. Faz frio em dezembro. Quase fim de ano, mas não parece. Pelo menos não hoje, não agora.
O tempo, fracionado em horas, dias, meses e anos, é uma invenção do ser humano. O que se vê lá fora, através da janela, de certa forma desafia essa lógica racional de colocar narrativas de vida em linha reta, em ordem uma desordem inerente.
Deveria estar calor, mas não está. Sinto na pele o último mês de um ano que hesita em terminar, e talvez se disfarce de maio, para ganhar mais horas, dias, meses. A invenção, por suas regras, tem de se esgotar, impondo um recomeço forçado chamado janeiro. Essa imposição causa alguma angústia: o ciclo tem mesmo que se fechar? Melhor seria parar os ponteiros do relógio para compreender melhor o tempo.
O tempo, fracionado em horas, dias, meses e anos, é uma invenção do ser humano. O que se vê lá fora, através da janela, de certa forma desafia essa lógica racional de colocar narrativas de vida em linha reta, em ordem uma desordem inerente.
Acabaram com o horário de verão, pois então terminem com o fim do ano. Pelo menos hoje, agora.
Por ironia, todos os meus relógios de pulso estão parados há um par de meses. Coincidência? Até hoje de manhã estavam guardados em uma prateleira do guarda-roupa. Decidi colocar um deles em movimento, arrumar sua pulseira, trocar a bateria, tirá-lo do repouso, do sono. Despertá-lo para me ajudar a organizar esse tempo inventado, colocar tudo em linha reta, rumo ao desfecho e ao recomeço.
Mas hoje, lá no fundo, quero apenas ficar ouvindo os pneus no asfalto molhado.