Uma casa, muitas vezes, não é necessariamente um lar. Precisa transformar-se. Esse processo, muito sutil, se dá a partir de um vínculo construído de forma subjetiva, lenta e gradual. Inicia-se, talvez, antes mesmo de uma mudança efetiva, costurado pelo fio mágico das expectativas, talvez sem mesmo nos darmos conta.
Nasce, especulo eu, no momento em que começamos a construir, nos limites físicos desse imóvel, possibilidades de narrativas, fantasias, que dele se apropriam como cenário. A imaginação, afinal, não reconhece limites. Invade, ocupa, sem pedir permissão.
Uma casa, muitas vezes, não é necessariamente um lar. Precisa transformar-se. Esse processo, muito sutil, se dá a partir de um vínculo construído de forma subjetiva, lenta e gradual. Inicia-se, talvez, antes mesmo de uma mudança efetiva, costurado pelo fio mágico das expectativas, talvez sem mesmo nos darmos conta.
O espaço físico, a partir do olhar que o descobre e por ele de alguma maneira se encanta, se encarrega de acumular histórias, experiências, em seus cômodos. Se as paredes aos poucos abrigam fragmentos do que somos e vivemos, esse espaço, antes impessoal, deixa de ser mero endereço, para tornar-se um lugar para estar e viver, uma espécie de extensão de quem somos e também nos tornamos.
Os primeiros 15 anos de minha vida foram um tanto nômades. Mudei de cidade e estado algumas vezes na infância e adolescência. E sempre que meus pais decidiam “levantar acampamento”, era difícil. Percebia que, a cada mudança de casa, às vezes em uma mesma localidade, ocorria uma ruptura, e eu resistia a aceitar esse movimento em um primeiro instante: era como se estivesse me desconectando de uma porção importante da minha história. Havia criado laços afetuosos com aqueles espaços onde havia vivido. Percebia que eu estava a deixar para trás pedaços de minha ainda breve história. Podem chamar isso de apego, não sei.
Talvez por ainda guardar em mim essas sensações, que eu valorize tanto a ideia de lar, como um conceito muito especial que se inicia no plano do concreto. Mas se torna um tanto transcendente à medida em que esse lugar é interiorizado, e lá percebemos o afeto instalado. Lar é onde está o coração.