Os olhos são inquietos. Faíscam e parecem ter fome. Isso, seu olhar é faminto. Serve-se do mundo ao redor sem pedir licença. Investiga, observa e, em alguns momentos, questiona, ainda que em completo silêncio. Ou quase. É desafiador tentar compreender o que pretende expressar quando se senta ali, a vasculhar a realidade como quem inspeciona, mas não com o intuito de fazer julgamentos. Sua intenção é outra: compreender, penso eu. Ver um sentido e, talvez, encontrar poesia que se enconde nas pequenas coisas.
São enigmáticas as expressões em seu rosto bonito, dotado de uma certa gravidade, realçada por pequenas rugas que começam a se desenhar sutilmente ao redor dos olhos. Talvez sejam marcas de expressão, consequência de um temperamento ao mesmo tempo contido e intenso, que não se traduz necessariamente em palavras, já que prefere falar pouco. O necessário, embora em alguns momentos dê a sensação de que gostaria muito de dizer algo importante, revelador. Faz parte do seu mistério esse calar-se, esse estar presente sem precisar sempre se anunciar.
Às vezes há uma longa história escondida naquele olhar. Como uma antiga tela de cinema que se descortina, enquanto as luzes se apagam, em um ritual que antecede o mergulho do espectador numa outra dimensão. Entrelaçados, nessa trama prestes a se iniciar, elementos indispensáveis a um bom espetáculo: suspense, humor, aventura, romance.
Às vezes há uma longa história escondida naquele olhar. Como uma antiga tela de cinema que se descortina, enquanto as luzes se apagam, em um ritual que antecede o mergulho do espectador numa outra dimensão.
Interessante essa capacidade que alguns têm de pouco falar e tanto expressar, enquanto outros falam muito, transbordam em uma profusão de ideias e palavras que, por fim, se desmancham, escoam no vazio. Talvez seja o excesso de convicção que os tornem desinteressantes, aborrecidos, previsíveis nesse esforço de se fazerem ouvir.
Assim, benditos sejam os mistérios, os olhares que dizem sem precisar falar, as histórias contadas por meio de pistas.que são deixadas sem pressa, como penas que se desprendem das asas de um anjo. Não é preciso tudo saber, explicar. Pelo contrário. A vida reside nas descobertas, nas faíscas que emanam do olhar de quem presta atenção, se deixa levar pela correnteza e mergulha no mundo.