Um dia desses, enquanto ouvia, com bastante interesse, à fala de um professor sobre uma linha de pesquisa acadêmica à qual ele vem se dedicando nos últimos tempos, tive uma epifania. Nada tinha a ver diretamente com o tema de sua palestra, mas com o local onde estávamos: uma sala de aula, convencional e sem maior sofisticação. Dei-me conta, naquele instante, que alguns dos momentos mais significativos que vivenciei na vida, desde a infância, haviam se dado em um ambiente exatamente igual àquele. Despretensioso, mas repleto de possibilidades.
Sou professor e aluno há muito tempo, já perdi as contas. Para ensinar, acho que, de alguma forma, precisamos estar sempre a aprender algo, ocupando também a posição dos pupilos. É uma equação um tanto óbvia, sei disso, mas nunca é demais repeti-la. É mais ou menos como o psicanalista que também precisa deitar-se sobre o divã, figurativamente ou não, para exercer mais plenamente o seu ofício.
A ideia de o espaço físico de uma sala de aula, dotada de um quadro onde são feitas explanações, carteiras às quais alunos se sentam para fazem suas anotações e leituras, é tão simples, ainda que o espaço conte com equipamentos de última geração, no fundo acessórios de algo bem mais fundamental, básico. O encontro.
Mas, no momento em que o estopim da bomba é aceso, e as ideias começam a fluir, o conhecimento se espalha pelo ar, sob a forma de diálogo, troca de opiniões, e transmissão de conhecimentos, acontece uma espécie de milagre. O local, seja em uma escola de ensino fundamental ou em uma universidade, ganha uma certa aura de sacralidade.
“Mas, no momento em que o estopim da bomba é aceso, e as ideias começam a fluir, o conhecimento se espalha pelo ar, sob a forma de diálogo, troca de opiniões, e transmissão de conhecimentos, acontece uma espécie de milagre.”
Quando falo aqui em sagrado não quero elevar a educação ao patamar do idealizado, pelo contrário. Acredito na educação com um processo que deve permear toda e qualquer atividade humana. Aprender faz parte de tudo que somos e fazemos. Mas a sala de aula, tal como um teatro, guarda tantas memórias, e potencialidades, ecos de experiências vividas e de fagulhas do que pode vir a acontecer, que deve ser uma parada obrigatória, e recorrente, do mundo. Pelo menos daquele onde quero passar o resto dos meus dias.