Você dobra a esquina, encosta-se no balcão da vida para observar o mundo, e algo indescritível acontece, como uma onda que se eleva no mar, um olhar breve, porém intenso, que revela uma bela nova paisagem, um mar imenso de possibilidades. O inesperado, a surpresa, existem porque, ainda que tudo pareça estar roteirizado, acomodado em uma ordem estudada, confortável, muito pode acontecer quando a alma se permite flanar, sem um destino certo. Ela está ali, sem pretensões, apenas a flutuar e, de repente, uma luz se acende no horizonte. Um farol iluminado.
Sempre fui, já disse algumas vezes aqui, do tipo introspectivo, observador por vocação. Divirto-me com o trivial e, principalmente, encantam-me os detalhes aparentemente desimportantes desse cotidiano, que embora pareçam se repetir, nunca são exatamente iguais, porque também somos seres impermanentes, mutáveis. Os acordes até se repetem, mas a melodia toma outros rumos e nos convidam a danças inusitadas. Mais feliz é quem se permite bailar.
Você dobra a esquina, encosta-se no balcão da vida para observar o mundo, e algo indescritível acontece, como uma onda que se levanta no mar, ou um olhar breve, porém intenso, que revela a possibilidade de uma bela e nova paisagem.
Acredito, a essa altura da vida, com bastante convicção, na surpresa, na força potente do improvável que pode, a qualquer momento, se sentar ao nosso lado a bordo do ônibus, ou no banco da praça, para reescrever o que somos com novos traços e cores, texturas que se alteram para podermos vibrar mais livres, intensos.
Atrás do pano do que acreditamos ser a realidade, em um canto qualquer da rotina, às vezes mais perto do que se imagina, pode estar a grande beleza, o susto e o encantamento que redesenham o itinerário da viagem, nos conduzindo a outros territórios, repletos de bosques e montanhas-russas, capazes de nos tirar o fôlego e descobrir que a vida é sonho. Embarcar é preciso.