O silêncio merece respeito. Há quem prefira nada dizer, manter-se calado, o que pode ou não ser interpretado como omissão. Depende do ponto de vista. Talvez seja por cautela, ou mesmo a constatação de que nada que for dito será, de fato, ouvido em dias tão ruidosos. Discursos vazios, com pouca ou nenhuma sustentação, afinal, estão por todos os lados: nas redes sociais, com certeza, mas também na vida real, em um espelhamento perturbador.
Essa perplexidade que conduz alguns ao silêncio absoluto intriga, porque as lacunas podem ser preenchidas de várias maneiras. Mas também pode ter a ver com autocensura e isso, sim, é um péssimo sinal, porque quando, de forma consciente ou não, incorpora-se a figura do opressor, aquele que vigia para punir, o jogo já está meio perdido. Com medo não se vai muito longe, por mais sutis que sejam os temores, a desconfiança.
O cerceamento da liberdade de expressão, a desconstrução da educação e da cultura como instrumentos de obtenção da cidadania plena e de autonomia intelectual, a “vilanização” dos ativismos, estão aí para quem quiser ver. Tudo isso já está acontecendo, não é paranoia ou mistificação.
O cerceamento da liberdade de expressão, a desconstrução da educação e da cultura como instrumentos de obtenção da cidadania plena e de autonomia intelectual, a “vilanização” dos ativismos, estão aí para quem quiser ver. Tudo isso já está acontecendo, não é paranoia ou mistificação. E com o aval de milhões, que resolveram delegar, cegamente ou quase, o controle de seus destinos a quem desdenha, enfaticamente, de ideais mais progressistas, inclusivos, os classificando como estratégias desonestas.
Voltemos, então, ao silêncio, um direito legítimo de todos. Nada mais autoritário do que patrulhar, julgar o outro em nome de nossas convicções ou pseudocertezas. A opção por nada expressar é legítima. Apenas espero que essa reticência seja uma escolha e não uma imposição. E que ela não conduza a um abismo, a um retrocesso irreversível, e a um amargo arrependimento. A História não tem marcha-ré.