Há quantos meses você não vê aquele seu amigo querido? Eu já perdi a conta das vezes em que ensaiei um convite, insinuei uma visita inesperada, quase provoquei uma cerveja com gente querida, mas que já não percorre mais meus caminhos cotidianos e, por um motivo ou outro, vai desaparecendo do meu campo de visão, transformando-se em miragem. Culpa de quem? Provavelmente de ninguém. Ou um pouco de todos os envolvidos. O comodismo, afinal, não gosta muito de surpresas. Nem de remorsos ou abraços de verdade.
Sabe aquele clichê da planta que morre quando não é regada? Pois é…. A sabedoria popular, em toda sua ingenuidade simplista, talvez por ser empírica, receita de bolo demais, também não pode ser subestimada. Afetos precisam de olhares, toques, palavras, segredos, confissões e até de trocas de farpas. Daquele papo na mesa da cozinha, ou de boteco. Caso contrário, não floresce.
Há quantos meses você não vê aquele seu amigo querido? Eu já perdi a conta das vezes em que ensaiei um convite, insinuei uma visita inesperada, quase provoquei uma cerveja com gente querida, mas que já não percorre mais meus caminhos cotidianos e, por um motivo ou outro, vai desaparecendo do meu campo de visão, transformando-se em miragem.
Embora experiências compartilhadas, um passado em comum, afinidades enfim, constituam base sólida, importante, também correm o risco de, com o passar do tempo, se transformarem em nostalgia. Saudade do que não é mais, cuja doçura enganosa amarga no fim. Termina em dor e solidão.
O encantamento, li outro dia, tem prazo de validade. Verdade dura, espinhosa. Especialmente quando vira certeza, e não é regado, alimentado por novas experiências, aventuras. Amor e amizade, sentimentos irmanados, às vezes siameses, precisam de porres à luz do luar, de declarações arrebatadas com direito a lágrimas porque já não cabem no peito, necessitam do arrebatamento. Afinal, a vida para fazer sentido tem de ser prosa poética, falar em versos sem a nem sempre necessária sustentação da lógica, da argumentação.
Há que se compreender que tudo muda, se reconfigura. Convidar aquele amigo querido para uma cerveja, bater àquela porta sem avisar, nunca é tarde, mas deve também fazer sentido. Tanto para quem se permite o gesto quanto para quem o recebe. Não há encantamento se os afetos não se equilibram e os versos não mais ecoam. Daí, melhor ficar com a saudade.