No início de fevereiro, comecei a trabalhar em uma sala ampla, de pé direito alto, com vistosos janelões antigos, através dos quais enxergo um recorte precioso do Centro de Curitiba. De minha mesa, veem-se exuberantes tipuanas, árvores da família Fabaceae, tombadas pelo Estado do Paraná em 1977. Seus galhos potentes, que se espalham e projetam para cima e para o alto, em direção ao céu, com folhas de intensos tons de verde, são emoldurados para meus olhos, recortando um horizonte urbano de prédios não muito altos. Essa visão me tranquiliza e me dá uma reconfortante sensação de pertencimento.
Se eu voltar meu olhar para minha esquerda, encontrarei outra paisagem, que entra por um outro janelão. Na fachada do antigo, e para mim saudoso Cine Condor, onde assisti a centenas de filmes ao longo de duas, três décadas, deparo-me com uma imensa intervenção artística, assinada pelos muralistas Rimon Guimarães, Ramon Martins e Zeh Palito. Trata-se de uma obra coletiva integrante do projeto Cosmic Boys, da produtora Mucha Tinta. Essa visão me energiza e me lembra que estou em uma cidade viva, pulsando em sua mutação no tempo.
Se eu voltar meu olhar para minha esquerda, encontrarei outra paisagem, que entra por um outro janelão. Na fachada do antigo, e para mim saudoso Cine Condor, onde assisti a centenas de filmes ao longo de duas, três décadas, deparo-me com uma imensa intervenção artística, assinada pelos muralistas Rimon Guimarães, Ramon Martins e Zeh Palito.
O contraste entre essas duas paisagens ao alcance da minhas retinas, uma mais natural, quase idílica, suavizando a urbanidade ao meu redor, e a outra urgente, um grafite em suas cores e formas inusitadas, materializam, de certa maneira, estados mentais que se complementam, como se um precisasse do outro para fazer mais sentido na minha nova rotina.
No mural, há uma ave gigantesca, de asas azuis turquesa, cabeça verde e bico preto. O pássaro se agarra a um galho de árvore, que poderia muito bem ser extensão em tinta das tipuanas vizinhas, da Praça Santos Dumont. No fundo, de um vermelho encarnado, também enxergo uma romã aberta, enorme, fruto que para muitas culturas simboliza harmonia, coesão – dizem que a organização interna de suas sementes assemelha-se a de um favo de mel. Um primor da arquitetura natural.
Nesse lugar, encravado no coração de Curitiba, perto de seus caminhos mais históricos, mas também nem um pouco distante do progresso que nos atropela, às vezes sem muita piedade, no dia a dia, vejo uma composição das múltiplas facetas da cidade onde nasci, e teci minhas narrativas de vida. Tantas vezes passei pelo encontro dessas ruas onde meus tantos eus já perambularam em várias fases existenciais. Estou feliz por estar aqui, neste momento, entre a arte e a natureza em uma cidade que se reinventa nos seus tantos contrastes de cores e nomes. Posso escolher para onde olhar.