Elevadores em prédios residenciais são espaços antropológicos interessantes. No edifício onde atualmente moro, construído nos 1960, há, pelos meus cálculos, 38 apartamentos, distribuídos em 19 andares. O perfil dos moradores é bastante diverso: vai de casais idosos, daqueles cujos filhos vêm buscá-los de carro para o almoço de domingo, até repúblicas de jovens, não sei se de estudantes ou não, que escutam música alto, deixam a porta entreaberta e recebem muitos amigos, sobretudo nos fins de semana, e a qualquer hora.
A despeito do fato de todos morarem em uma mesma construção, lado a lado e uns sobre os outros, não sinto que haja no condomínio um senso de comunidade. Pelo contrário. Os encontros fortuitos a bordo do elevador social quase sempre provocam algum constrangimento, certo desconforto por se estar, ainda que por poucos segundos, a compartilhar parcos metros quadrados de proximidade física. O natural seria entabular algum tipo de conversação, mas não. Talvez por se tratar de Curitiba, uma cidade de DNA introvertido, evita-se até mesmo contato visual. E as respirações ficam quase suspensas.
Os encontros fortuitos a bordo do elevador social quase sempre provocam algum constrangimento, certo desconforto por se estar, ainda que por poucos segundos, a compartilhar parcos metros quadrados de proximidade física.
De minha parte, procuro não ser sovina, economizando bons dias, olás e até logos. Faço a minha parte, mas nem sempre obtenho respostas muito além de breves maneios de cabeça, meios sorrisos, facilmente confundíveis com espasmos faciais não voluntários, e, sobretudo, olhares vazios, que se não mergulham automaticamente nos próprios sapatos, parecem fitar através de mim. Os que puxam conversa ensaiam algum tipo de comentário que, por serem raros, me tomam de assalto e acabam por revelar que sou bem mais curitibano do que eu gostaria.
Ironicamente, o elevador de serviço, embora tenha dimensões idênticas aos do social, com o qual divide o mesmo fosso, proporciona experiências um pouco distintas. Já vão longe, felizmente, os tempos nos quais diaristas e empregadas domésticas eram obrigadas a utilizá-lo, sem acesso ao principal. Agora o “número 2” serve para mudanças, transportar compras e animais de estimação, que pelas normas do prédio, devem ficar, sempre que possível, longe do elevador titular. E é incrível como os bichos, sobretudo os cachorros, são capazes de aproximar os humanos.
“Onde você o leva para passear?”, “Quantas vezes por dia?”, “Ele fica bem sozinho no apartamento?”. As indagações brotam naturalmente, sem maior acanhamento, quase como pretextos para estreitar, ainda que de forma efêmera e circunstancial, os laços de vizinhança, como uma forma de quebrar o gelo. A conversa, por mais banal, costuma fluir de forma mais espontânea a bordo do elevador de serviço.
Talvez houvesse a vontade de saber se a outra pessoa vive só, ou onde ela costuma almoçar nas redondezas do prédio, ou mesmo convidá-la para um café um dia desses. São diálogos possíveis, e talvez até desejados por muitos, mas as viagens entre os andares são sempre curtas demais para a intimidade.