Quando eu soube que o escritor norte-americano André Aciman iria lançar uma continuação de seu livro Me Chame pelo Seu Nome, lançado em 2007 e adaptado para o cinema pelo diretor italiano Luca Guadagnino dez anos mais tarde, minha primeira reação foi um misto de curiosidade e ceticismo. A história de amor entre Elio e Oliver, tão linda quanto breve, talvez devesse, no meu entender, permanecer intocada, como uma quimera. Mas seu autor decidiu revistá-la e eu, obviamente, não resisti e comprei o livro.
A estrutura de Me Encontre, que terminei neste fim de semana depois de alguns meses de leitura intermitente, não foi pensada, absolutamente, para satisfazer os desejos mais urgentes de quem deseja saber, logo de cara, o que acontece na vida de Elio, o jovem aspirante a pianista, que chega à idade adulta assombrado pelo fantasma de uma paixão avassaladora, talvez vivida cedo demais.
Ao término de Me Chame…, Oliver, estudante de Filosofia, orientando do pai de Elio em um estágio de verão na Itália, retorna aos Estados Unidos, onde decide se casar. Restam aos dois, portanto, apenas lembranças de dias intensos vividos juntos.
Quando eu soube que o escritor norte-americano André Aciman iria lançar uma continuação de seu livro Me Chame pelo Seu Nome, lançado em 2007 e adaptado para o cinema pelo diretor italiano Luca Guadagnino dez anos mais tarde, minha primeira reação foi um misto de curiosidade e ceticismo.
Aciman brinca com a expectativa de seus leitores, que não foram poucos ao redor do mundo, principalmente depois do lançamento do filme – apenas nos Estados Unidos o livro vendeu mais de 750 mil cópias. A primeira parte do romance não diz respeito a nenhum dos dois protagonistas, mas, sim, a outro personagem fundamental à história: Samuel, o pai de Elio.
Agora divorciado, o personagem viaja para Roma, onde encontrará o filho, agora um respeitado concertista. A bordo, Samuel conhece uma mulher muito mais jovem, Miranda. Há entre os dois algo que pode ser descrito como um encontro de almas. Ao término de viagem, que não dura muito mais do que algumas poucas horas sobre os trilhos, os dois resolvem continuar o dia juntos pela Cidade Eterna. É a tal da possibilidade de um grande amor que dá as caras novamente, como no romance original. A grande beleza, enfim, tema central daquele livro.
Fazendo lembrar uma versão mais madura de Antes do Amanhecer, primeiro longa-metragem da adorável trilogia cinematográfica de Richard Linklster, estrelada por Ethan Hawke e Julie Delpy, esta primeira parte de Me Encontre se estende por mais de uma centena de páginas. E, por mais que Samuel seja um personagem muito interessante, repleto de humanidade, como também é instigante a possibilidade de seu envolvimento com uma mulher tão mais jovem, inquieta e provocativa quanto Miranda, dá vontade, preciso confessar, que nosso reencontro como leitores com os protagonistas não custe tanto a chegar.
Na segunda parte do livro, que se passa 15 anos após a despedida entre Elio e Oliver em Me Chame pelo Seu Nome, cada um dos dois recebe um capítulo em separado, narrado em primeira pessoa. Aciman quer, presumo, que o leitor entenda o que cada um viveu até que eles, enfim, possam se reencontrar e colocar seu passado a limpo. Elio vive em Paris e, depois de uma série de relacionamentos erráticos, se envolve com Michel, um homem francês bem mais velho que, de alguma forma, o reaproxima afetivamente do seu primeiro grande amor. A aproximação entre os dois envolve um mistério, relacionado ao passado familiar de Michel, que poderia ter sido mais bem desenvolvido por Aciman, ao meu ver.
Oliver, por sua vez, tornou-se professor universitário, casou-se, tem dois filhos, mas não é feliz. Descobrimos que também é assombrado pela quimera, pelo que poderia ter sido.
Terão Elio e Oliver uma segunda chance? Será que muito tempo não se passou e ambos mudaram demais, se tornando outras pessoas? Essas perguntas poderão – ou não – ser respondidas no derradeiro capítulo do livro quando eles se veem frente à frente. Fato é que ambos são seres incompletos, perseguidos pelo que não foi, por uma paixão fulminante que durou poucas semanas, e os lançou, de certa forma, em uma forma melancólica de vazio, em uma espera que nunca se dissipa. E é dessa dor, e da busca por superá-la, que o livro tira sua grande força.
Cheguei às últimas páginas de Me Encontre, em certa medida difícil de travessar, com os olhos rasos d’água. Quem resistir saberá por quê.