O longa-metragem 2001– Uma Odisséia no Espaço (1968), que completa meio século de lançamento, contém, talvez, o mais intrigante – e celebrado – corte da história do cinema. Também é, possivelmente, o maior salto temporal em uma narrativa fílmica de todos os tempos: quatro milhões de anos. A transição de planos ocorre quando um macaco, ancestral remoto da raça humana, arremessa para o alto, em direção ao céu, um osso, que acaba de ser usado para matar outro símio de seu grupo.
A câmera acompanha a trajetória ascendente do objeto transformado em arma até o início de sua inevitável queda, por conta da força da gravidade. Nesse momento, o filme introduz ao espectador a imagem de uma nave espacial, cujas forma e cor se assemelham bastante às do osso. Ao som da valsa “Danúbio Azul”, de Johann Strauss, a espaçonave atravessa a tela, flutuando no infinito.
A distância cronológica que separa esses dois planos, mas aproxima em significado o fragmento ósseo da imagem de uma nave imersa no futuro, ganha um significado extra diante da constatação de que a ideia de porvir projetada pelo filme, baseado no romance de Arthur C. Clark, antecipa um século 21 que, para nós, hoje, já é presente – ou passado.
Vi 2001 – Uma Odisseia no Espaço pela primeira vez sozinho, aos 12 anos, em uma reprise no Cinema 1, em Copacabana, no Rio de Janeiro dos anos 1970. Deixei a sessão perplexo, profundamente impactado pela experiência estética que havia vivenciado, e confesso que não a compreendi muito bem. Sabia, apenas, que meu conceito de futuro tinha sido irremediavelmente alterado. E guardei aquelas imagens comigo para sempre, como um sonho.
Vi 2001 – Uma Odisseia no Espaço pela primeira vez sozinho, aos 12 anos, em uma reprise no Cinema 1, em Copacabana, no Rio de Janeiro dos anos 1970. Deixei a sessão perplexo, profundamente impactado pela experiência estética que havia vivenciado, e confesso que não a compreendi muito bem. Sabia, apenas, que meu conceito de futuro tinha sido irremediavelmente alterado. E guardei aquelas imagens comigo para sempre, como um sonho.
Uma das inúmeras leituras possíveis de 2001 – Uma Odisséia no Espaço diz respeito à antecipação de um futuro, no qual o homem, na ponta da trajetória evolutiva da espécie, e a máquina, uma de suas criações, entram em confronto, por, de alguma forma, se confundirem. De tão arrojado, o computador Hal 9000 adquire de seu criador faculdades como a fala, o raciocínio lógico. Ao ponto de também absorver suas imperfeições, como o descontrole emocional. Chega ao extremo de, em seu processo de colapso (ou morte), apresentar um comportamento muito similar ao dos homens, que, na velhice, por conta de um processo neurológico degenerativo, começam a agir como crianças. Na medida em que o supercomputador do filme fenece, ele regride ao estágio infantil.
Faz sentido que, em 1968, às vésperas da chegada do missão Apolo 11 à Lua, e já em tempos de escalada tecnológica, o clássico de Stanley Kubrick ocupe-se dessa discussão. Desde seus primórdios, o cinema imagina o futuro tomando como base conflitos e preocupações que o afligem nas circunstâncias da criação do filme. Ou seja, no presente.
Como teria sido 2001 se tivesse sido fruto da imaginação de alguém em 2018? Faço-me essa pergunta.