Na manhã de 29 de abril de 1991, portanto há 30 anos, o cantor e compositor carioca Luiz Gonzaga Jr. regressava de uma apresentação na cidade de Pato Branco, sudoeste do Paraná, quando seu carro, um Monza, se chocou contra uma caminhonete nos limites do pequeno município de Marmeleiro. Gonzaguinha, como o artista era mais conhecido, estava a caminho de Foz do Iguaçu, onde iria pegar um voo rumo a Florianópolis, para mais um show, que nunca aconteceu.
A morte precoce do compositor – ele tinha apenas 45 anos – pegou o país de surpresa. Ele partiu menos de dois anos depois de seu pai, o pernambucano Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, um dos maiores ícones da música brasileira.
Do pai, apesar de não ser seu filho natural, herdou a incrível capacidade de traduzir, em acordes e versos, estados de alma do Brasil. A relação com Lua, apelido de Gonzagão, foi por muito tempo atribulada. Gonzaguinha cresceu no Rio de Janeiro, criado por um casal de amigos da família, e distante do olhar paterno, que não aprovou seu envolvimento com a militância contra a ditadura. A reconciliação só veio nos últimos anos da vida de ambos.
A música de Gonzaguinha, que ouvi muito na juventude, mas da qual fiquei afastado por anos, retornou com força à minha vida nos últimos tempos. Em suas canções, encontrei alento nesses sucessivos meses de pandemia.
A obra arrebatadora de Gonzaguinha transitou entre a canção de protesto, recorrente nos primeiros tempos de sua carreira, o samba e a balada romântica, que o transformou em um dos compositores mais requisitados do país – como esquecer “Explode Coração (Não Dá Mais pra Segurar)”, imortalizada na voz de Maria Bethânia, que a gravou no álbum Álibi (1978), um dos maiores sucessos da intérprete baiana?
A música de Gonzaguinha, que ouvi muito na juventude, mas da qual fiquei afastado por anos, retornou com força inesperada à minha vida nos últimos tempos. Em suas canções, encontrei alento nesses sucessivos meses de pandemia. Comprei vários de seus álbuns em vinil e, faixa a faixa, percebi que fui me reconectando não apenas com suas criações, mas com uma ideia de Brasil da qual, fui me dando conta, sento falta, por tê-la vivido e não mais a encontrar em dias tão sombrios.
Encontro conforto em Gonzaguinha, em versos como estes de “Redescobrir”, uma das minhas favoritas:
“Vai o bicho homem fruto da semente
Renascer da própria força, própria luz e fé
Entender que tudo é nosso, sempre esteve em nós
Somos a semente, ato, mente e voz”