Uma foto que ontem surgiu em minha linha do tempo no Facebook me fez concluir que Curitiba já teve uma vida cinéfila bem mais intensa. O instantâneo, originalmente postado na rede social pelo cineasta e poeta Nivaldo Lopes, o Palito, provavelmente clicado em algum momento entre 1987 e 1988, retrata um grupo de pessoas, algumas delas identificáveis. Ali estão o saudoso ator e diretor Paulo Friebe (o Paulão, morto em 2006), o roteirista Altenir Silva (o Bolinha) e o cineasta Werner Schumann.
Na imagem (que reproduzo acima), as pessoas conversam animadamente em frente ao finado Cine Ritz, no calçadão da Rua XV de Novembro, não sei se antes ou depois de uma sessão. Pouco importa, na verdade.
A sensação de nostalgia, e de certa melancolia, é inevitável. Quase consigo me enxergar em um canto da fotografia. Perdi as contas de quantos filmes assisti no Ritz. Dezenas, senão centenas, ao longo de duas décadas.
Para quem é jovem demais para se lembrar, ou se mudou para a cidade há pouco tempo, o Ritz, que encerrou suas atividades há exatos dez anos, depois de amargar um período de agonia, era um espaço público de cultura, uma sala de exibição administrada pela prefeitura, por meio da Fundação Cultural de Curitiba, e oferecia ao público uma programação de qualidade, mais voltada à produção autoral, e sobretudo plural.
A sensação de nostalgia, e de certa melancolia, é inevitável. Quase consigo me enxergar em um canto da fotografia. Perdi as contas de quantos filmes assisti no Ritz. Dezenas, senão centenas, ao longo de duas décadas.
Mas também, como todo cinema, teatro ou museu deveria ser, constituía um espaço de sociabilidade: em sua sala de espera, abaixo do nível da calçada, à qual se chegava descendo um lance de escadas acarpetadas, presenciei e algumas vezes participei de acaloradas discussões sobre os filmes e a vida cultural curitibana.
No comentário que acompanha a postagem que ontem li no FB, o diretor, ator e autor teatral Edson Bueno dizia apenas “Saudade… Saudade de tudo!!!”. A identificação foi imediata. Lembrei-me de uma fala da personagem de Fernanda Montenegro na cena final de Central do Brasil, de Walter Salles. E, como ela, acrescento, por minha conta: “Saudade de mim”.
Na sala de poltronas vermelhas, vi pela primeira vez, nos anos 1980, logo em sua inauguração, o documentário Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho, hoje um clássico do cinema político brasileiro. Também assisti a um de meus filmes de cabeceira, Asas do Desejo, obra-prima de Wim Wenders sobre as fragilidades da condição humana em um mundo também povoado por anjos numa Alemanha ainda dividida.
Não creio que a cinefilia tenha morrido em Curitiba, pelo contrário. Mas sinto falta de espaços de encontro. Perto da rua, e do mundo. A cidade perdeu, ou fui eu?