Flores anunciam vida. São prenúncios de frutos, e despertam o olhar para as cores da transição sutil entre as estações. Esparramam-se pelas calçadas como tapetes inusitados e quase surreais, porque enfeitam os caminhos mais rotineiros, quebrando a sensação de mesmice. De repente, elas estão lá, sob nossos pés, respingos de tinta em uma tela tridimensional que chamamos de realidade.
Setembro, em seus derradeiros dias, traz todos os anos essa certeza de renovação no ar. O horizonte se altera, porque há no ar mais beleza, mas ela não explode de uma só vez. Vem, passo a passo, aos poucos, brotando aqui e ali, em seu próprio ritmo. Os dedos invisíveis do tempo operam minúsculos milagres, apenas visíveis nos detalhes, por obra e graça do Deus das pequenas coisas, que à medida em que o tempo avança, pelo menos para mim, se torna mais poderoso. Talvez seja ele o maior dos criadores, que sugere sem incitar, a desafiar os menos atentos.
Os dedos invisíveis do tempo operam minúsculos milagres, apenas visíveis nos detalhes, por obra e graça do Deus das pequenas coisas, que à medida em que o tempo avança, pelo menos para mim, se torna mais poderoso.
O sol de primavera é peculiar, porque um tanto indeciso, ainda mais em Curitiba. De temperamento instável, ele por vezes acorda muito cedo e se coloca no céu como um leão majestoso, a rugir e balançar sua juba dourada contra o azul intenso do céu. Mas ele também pode se fazer presente de forma bem mais tímida, introspectiva, como um peixe que nada em águas turvas, a refletir em seu espelho nuvens acinzentadas, assemelhadas a um cobertor familiar costurado sob medida para nos proteger
São fascinantes essas estações intermediárias, mutantes e temperamentais, sempre de alguma forma arrebatadoras. A primavera, cantada pelos poetas e compositores como a estação do despertar dos amores, também simboliza, de certa forma, a impermanência do que se transforma para desabrochar em vida transformada em pétalas e cores. Intensa em toda sua delicadeza.