Reza a teoria que a crônica é uma forma textual híbrida, no meio do caminho entre a literatura e o jornalismo, com os pés fincados no chão da vida real, mas a cabeça suspensa entre as nuvens de tudo que pode, mas não precisa ser.
O cronista seria capaz de perceber o invisível e traduzir em palavras o que está no ar, porém muitas vezes não é tão óbvio para a maioria dos mortais, mais preocupada em sobreviver. Quando escreve, o texto pode fluir com tamanha naturalidade que vem em certo tom de conversa fiada sem pretensões, ao pé do ouvido. Encharcado de pessoalidade, ele se aproxima de quem lê, e ao seu lado se instala. Essa cumplicidade, quando atingida, não tem preço.
A crônica toma, quase sempre, a realidade como matéria-prima, e permite ao autor toda a sorte de possibilidades, de devaneios subjetivos ao uso, sem muito pudor, da ficção, também lhe dando a permissão de transitar entre a poesia e a prosa com a maior liberdade.
Vale um pouco de tudo na crônica, porque no jogo do tempo, dos fatos, das sensações e dos sentimentos, qualquer canto de passarinho, conversa de elevador, troca de olhares ou flor no asfalto merece atenção. Porque são sinais de vida.
Reza a teoria que a crônica é uma forma textual híbrida, no meio do caminho entre a literatura e o jornalismo, com os pés fincados no chão da vida real, mas a cabeça suspensa entre as nuvens de tudo que pode, mas não precisa necessariamente ser.
Ninguém, espero, vai processar o cronista por transfigurar ou inventar uma história de seu cotidiano. É seu, afinal de contas! A vida e todas as suas múltiplas possibilidades estão ao alcance de quem escreve, e seu único dever, defendo, talvez seja lançar ao mundo um olhar atento, sensível e, sobretudo, todo seu. Talvez por isso o dialogismo, essa capacidade de escrever como quem fala, em viva voz, com o leitor, seja algo tão precioso. O cronista é uma espécie de confessor debochado, ouvidor sem qualquer compromisso de tomar medidas cabíveis. Uma companhia, enfim.
Sim, as crônicas não são um território de fronteiras demarcadas, intransponíveis! E, talvez, por isso mesmo, tenham feito história nas letras brasileiras, atravessando décadas e formando gerações de leitores. Porque são como pegadas de caminhos percorridos pelo inconsciente coletivo. Leia os grandes cronistas brasileiros e certamente irá se encontrar entre um texto e outro. A lista é longa: João do Rio, Machado de Assis, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Carlos Drummond de Andrade, Rachel de Queiroz, Fernando Sabino, Clarice Lispector, Luiz Fernando Verissimo, Cristovão Tezza, Antonio Prata, Gregório Duvivier… Eles, de certa forma, nos traduzem.
Gostaria de encerrar 2016 com um texto à altura do ano que vivi. Impossível! Relendo os textos que aqui publiquei, contudo, percebo que nunca estive tão presente no que escrevo. De corpo e alma, sem qualquer ficção. Consigo me ouvir e perceber em minhas crônicas. E isso, para mim, é muito.