Há quatro meses, parece que a vida se trancou do lado de dentro. Tornou-se um espetáculo a ser visto à distância. Através da janela, na tela da televisão, pelo vidro do carro. O olhar voltou-se para o interior e, mesmo sem querer, ficou mais investigativo, questionador, porque o horizonte encolheu, para ampliar-se nos pensamentos, nos devaneios e, claro, nas inquietações.
Caminhar pelas ruas, hoje um privilégio cobiçado, alivia a fome de imagens, de movimentos e sons. O pouco é muito, porque alivia, traz a sensação de liberdade, ainda que condicional, provisória. É cronometrado em quadras, em máscaras. Mas cada minuto é precioso.
Caminhar pelas ruas, hoje um privilégio cobiçado, alivia a fome de imagens, de movimentos e sons. O pouco é muito, porque alivia, traz a sensação de liberdade, ainda que condicional, provisória. É cronometrado em quadras, em máscaras. Mas cada minuto é precioso.
O isolamento social, mesmo não sendo imposto por lei, é, para quem pode, uma opção pela sobrevivência. Não apenas pela sua ou a minha. É um exercício de empatia, de cuidar do outro. Respeito, porém, quem não tem essa escolha e é forçado a sair e, assim, enfrentar a possibilidade da doença. Talvez, por isso, dos que dela duvidam, dos que negam o vírus, escolho ficar longe. Cada vez mais.
A pandemia veio para tirar de nossas relações interpessoais um certo véu de hiprocrisia, revelando algumas diferenças que, talvez, se tornem irreconciliáveis quando tudo isso terminar. Esse estar longe evidenciou o que antes estava oculto, ou não se queria ver. Proporcionou uma visão mais ampla, e sensível, justamente porque o olhar foi interiorizado, e agora busca uma paisagem útil. Muitas perdas, assim, serão inevitáveis. É muito provável, assim, que a vida pós-pandemia seja diferente. Só nos resta esperar.