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Home Crônicas Yuri Al'Hanati

Aprender a ser Biswas

porYuri Al'Hanati
29 de março de 2021
em Yuri Al'Hanati
A A
Wood Naipaul

O escritor V. S. Naipaul, vencedor do prêmio Nobel. Imagem: Reprodução.

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Coisa de uma década atrás mais ou menos, li um catatau que muito me impressionou pela mistura bem bolada de comicidade e tristeza. O livro se chama Uma Casa Para o Sr. Biswas, escrito pelo prêmio Nobel trinitário V. S. Naipaul (as iniciais escondem os impronunciáveis sons de Vidiadhar Surajprasad), e contava a história de Biswas, um homem de origem humilde que, desde muito cedo, queria ter sua própria casa. Por uma série de reviravoltas azaradas em sua vida, demora mais do que deveria para realizar seu sonho e, quando finalmente consegue, se vê às voltas com o pesadelo de se manter uma casa construída com materiais de segunda ou terceira linha. Por exemplo, compra um telhado de amianto na promoção porque tem buracos, e um vizinho recomenda que tape os buracos com piche. Quando o sol quente bate, entretanto, o piche se descola e goteja sobre a casa, estragando tudo o que há embaixo. Um cano quebra, o piso de madeira se retorce no calor, enfim, o personagem passa boa parte do livro correndo para impedir que seu sonho literalmente se desmorone.

Assim como a saúde com que começamos a nos preocupar depois de certa idade, também a casa necessita de cuidados e reparos constantes. Percebi isso com certo assombro quando, em uma noite de insônia, resolvi fazer uma lista de todas as substituições e consertos que necessitava fazer em meu diminuto apartamento e cheguei à espantosa soma de dezoito itens, de chuveiro pingando a fiações inteiras que necessitam ser trocadas por bitolas maiores. Sequer listei os problemas sobre os quais já não se pode fazer nada, como o piso laminado, já fora de linha, que sobe um pouco mais a cada vez que uma chuva inesperada se encontra com o esquecimento de uma janela aberta.

Assim como a saúde com que começamos a nos preocupar depois de certa idade, também a casa necessita de cuidados e reparos constantes. Percebi isso com certo assombro quando, em uma noite de insônia, resolvi fazer uma lista de todas as substituições e consertos que necessitava fazer em meu diminuto apartamento e cheguei à espantosa soma de dezoito itens.

Mais do que o primeiro passo para tomar as rédeas da situação, a lista feita teve em mim o impacto da constatação acerca da fina linha sobre a qual mesmo um sistema artificial em uso como um apartamento precisa se equilibrar. Moro neste mesmo apartamento há treze anos e fui fazendo pequenas reformas nele ao longo do tempo, trocando móveis e paredes com infiltração. À exceção dos eletrodomésticos, aquilo que não troquei escancara sua decrepitude para o resto das coisas. O lar se desmorona, e não há, nessa hora, como não se sentir um pouco Biswas, tentando frear o efeito do tempo sobre si e seu lar.

Há quem consiga transmutar tal transtorno em hobby. Dinheiro e tempo extra são gastos com a casa e coisas para a casa. Há carinho e diversão no reparo, na manutenção, na monotonia de uma atividade sem maiores emoções. Listo tal virtude entre outras tantas que jamais cogitei desenvolver em minha vida. Agora preciso. “O tempo destrói tudo”, diz a ladainha do filme Irreversível, ao que consinto e, cheio de preguiça e inabilidade, arregaço as mangas e abro a carteira para o trabalho a ser feito. A felicidade possível, numa quarentena e em meio aos corpos que enchem todos os buracos abertos no solo do país, é manter uma casa operante.

Tags: apartamentobiswascasaCrônicamanutenção

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