Comecei a ficar acostumado a olhar as minhas lembranças do Facebook. A rede social instalou há algum tempo um botãozinho que permite acessar suas postagens antigas feitas nesse mesmo dia, anos atrás. É um pequeno ritual diário. Clico naquela sessão e passo a ver o que me preocupava, o que queria compartilhar com as pessoas, e se ainda são preocupações e anseios atuais, certo de que aquilo representa alguma parte significativa da minha vida interna.
Há algo de seguro em verificar essas postagens, já que tenho conta no Facebook há pouco mais de sete anos. Nenhuma lembrança vai me remeter à adolescência ou aos últimos anos da infância, tão dolorosos para mim. Mesmo assim, voltar no tempo não deixa de ser meio decepcionante. Quando vejo algo bobo que me preocupava, ou a maneira como eu escrevia, vem uma tristeza por quem eu era. Quando vejo algo que ainda me é atual, me sinto meio bobo, estagnado. Tento buscar, em meio a essa tristeza nostálgica, traços de uma suposta evolução que, para ser franco, pode muito bem não existir.
Quando vejo algo que ainda me é atual, me sinto meio bobo, estagnado. Tento buscar, em meio a essa tristeza nostálgica, traços de uma suposta evolução que, para ser franco, pode muito bem não existir.
A verdade é que não dá para saber com certeza o que buscamos quando olhamos para o passado se já se sabe que reviver emoções e sentimentos apenas com lembranças é uma experiência volátil e insatisfatória demais para valer o esforço. Aprendi isso quando enchi o saco do meu pai certa vez para irmos ao Playcenter, que adorava quando criança, e passei tão mal depois de ter andado no primeiro brinquedo – uma montanha russa que vai até certo ponto e volta de ré – que o passeio acabou em meia hora. Mesmo assim buscamos isso. Alguns mais do que outros. Há quem viva pelas lembranças, como se o que viesse pela frente jamais fosse tão forte e tão significativo quanto o que já passou. Como se nada mais importasse como aquele momento em que paradoxalmente não se buscava lembranças. Até cair essa ficha, muitos anos se passam em branco, eu imagino.
Mesmo assim, se por um lado voltar no tempo é quase sempre decepcionante, ignorar o passado é uma alienação seletiva de que, acredito, ninguém deveria se dar ao luxo. Há sabedoria inscrita nas lembranças. Há também a sabedoria de não buscar sabedoria apenas nas lembranças. O equilíbrio entre essas duas sabedorias é o que todo mundo deveria pedir quando olha praquela coisa de universo e tal e pede algo. Viver a partir do passado e não pelo passado. Buscar no devir as futuras lembranças, as novas lições que serão lições do passado. Olhar para trás só depois de muito olhar para a frente.