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Home Crônicas Yuri Al'Hanati

Ninguém nasce pra guerra

porYuri Al'Hanati
27 de julho de 2020
em Yuri Al'Hanati
A A
"Ninguém nasce pra guerra", crônica de Yuri Al'Hanati.

Imagem: Reprodução.

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O velho bebe na guarita porque não pode beber em casa. A mulher não gosta, lembra de tempos outros e treme. Mas a folia e a vadiagem já estão há muito enterrados no passado. Acorda cedo, dorme tarde, faz o jogo político necessário para cuidar do estacionamento. Dá duro no empreendimento que ganhou de um filho que ficou milionário e que agora é seu plano de aposentadoria. Bom que faz alguma coisa, dizem. Ele bem acha que deveria fazer alguma coisa, mesmo.

A barba branca, as pernas magras, o cheiro de cigarro que o acompanha como uma nuvem ao redor, eis tudo. Gosta de qualquer coisa que tenha álcool, e se tiver companhia, melhor ainda. Quem é diferente? Fala baixo e pra dentro, seu corpo diminuto e sua fala controlada querendo pedir licença por onde passa, alheio à verdade que é não precisar pedir licença pra ninguém quando já se fez homem, criou filhos com diligência e se mantém no mesmo nível de responsabilidade que se espera desde sei lá quando. Ninguém em dia com as faculdades mentais diria que não venceu na vida. Arrasta a mulher para a igreja, desejoso de que reze também, mas não sustenta moralismos. Olha as bundas, o preço do fardinho, o maço de cigarro amassado no bolso da camisa que guarda só um ou dois canudos de nicotina no máximo, os carros que passam rápidos e modernos na rua em frente. Gosta dos antigos. O Voyage é o xodó, queria achar um Passat de jeito. Reformar e exibir, como uma afirmação sobre a superioridade moral de sua época, capaz de se manter conservada em condições ideais. Que Palio dura esse tempo todo hoje em dia? Que Corsa, que força de trabalho, que casamento? Tem tudo.

A barba branca, as pernas magras, o cheiro de cigarro que o acompanha como uma nuvem ao redor, eis tudo. Gosta de qualquer coisa que tenha álcool, e se tiver companhia, melhor ainda. Quem é diferente?

Bom, não tem tanta companhia durante o dia. A necessidade de vigiar o carro dos outros dentro do cercadinho que hoje é seu império de residência o coloca em isolamento constante. Não é possível descuidar muito, carros chegam e carros se vão a toda hora. Pega as chaves, entrega aos donos, distribui bons dias, boas tardes, boas noites e administra o pouco espaço manobrando voltantes estranhos para que fature mais. Por isso levo uma garrafa para ele, e bebemos juntos despejando groselha sobre o ar da guarita. Ele escondido da família, eu escondido dos chefes. Em meia hora dá pra ficar “carluxo” das ideias, e ao final do papo, a risada já está mais alta, os movimentos, mais trôpegos e as promessas de próximas vezes, mais incisivas. Bebe devagar e pouco a bebida alheia, enquanto minha sede dá conta do Chardonnay. Um dos meus: bruto, chegado a um papo e que não faz desfeita. Brindamos.

Há quem brigue. Há quem seja ignorante, quem queira aproveitar e levar vantagem, isso sempre tem. Ele é político e macaco velho, maneja tudo conforme o beabá que a vida lhe ensinou. Fácil. Pode muito bem algum dia se cansar de tudo isso, e ao invés de dizer bom dia, dizer ao diabo com tudo e se mandar para não sei onde. Faz qualquer negócio para não se estressar, mas os outros insistem no teste. Podem querer tirar a paz, mas, falando a verdade: ninguém nasce pra guerra. Jamais conseguirão.

Tags: bebidaCrônicafamíliaGuerrapazvida vivida

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