Eu estava na casa de um amigo quando o fantasma da introspecção tomou conta de mim. De repente, o fim de semana cheio de programas e encontros com amigos me pareceu um prelúdio para frustrações, o dia pareceu se arrastar e um enorme cansaço percorreu meu corpo. Fazia um tempo agradável, não dos melhores que Curitiba já teve, mas enfim, algo minimamente convidativo para situações ao ar livre. Não foi o bastante. O fantasma da introspecção grudou como um encosto incapacitante, que nenhum exorcista seria capaz de resolver.
Minha voz interior, sufocada pelo mata-leão do fantasma da introspecção, jogava seu inaudível suplício para minha razão: vamos sair, é fim de semana, não vamos ter outros encontros desses tão cedo. Pela janela, a cidade parecia normal, amigável até, para quem quisesse colocar um par de calças, ingressar em uma mínima produção pessoal – quem sabe até passar perfume? – e sair limpo e fresco pela noite igualmente limpa e fresca. Mas o fantasma da introspecção não queria saber disso. Tratou de tirar minhas forças e colocar pensamentos típicos de um ansioso onde antes havia desejo de ver as pessoas. “Vai ser uma droga, isso não combina com você” parecia ser a mensagem principal de todos os seus sinais cifrados.
Minha voz interior, sufocada pelo mata-leão do fantasma da introspecção, jogava seu inaudível suplício para minha razão: vamos sair, é fim de semana, não vamos ter outros encontros desses tão cedo.
O fantasma da introspecção se expande na mesma medida em que o corpo se encolhe, e as festas de fim de ano lhe parecem uma ameaça. São muitos para abraçar, muitos votos iguais sobre os quais se tentará inutilmente criar variações desde já pouquíssimo criativas. Um sofá em algum canto onde se pode sentar e beber ouvindo ao longe a falação alta dos convivas parece um oásis para o fantasma da introspecção. “Seja bonzinho, vá falar com suas tias”, a frase chega como um grito ancestral que prenunciaria o devir, e um calafrio percorre a espinha do corpo dominado pelo fantasma da introspecção. Então é preciso sair de casa, não importa o quê? A vida continua sem isso? Há quem me espere?
Que o fantasma da introspecção não dure mais do que um mísero fim de semana por aqui.