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Home Crônicas Yuri Al'Hanati

O fracasso e a arte do fracassado

porYuri Al'Hanati
16 de janeiro de 2017
em Yuri Al'Hanati
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Certa vez, o escritor e imortal Lêdo Ivo – bom, a essa altura já se sabe que não era literalmente imortal no fim das contas – disse em uma entrevista que jamais escreveria uma linha que fosse caso fosse rico, bonito e bem sucedido. Tivesse um barco, mulheres e outras coisas que a sua mente era capaz de conceber como sinônimo de felicidade ali e estaria em algum recanto aproveitando e não escrevendo a vida.

A ideia de que a escrita ou, vá lá, a arte em um sentido mais amplo, seja o ofício de almas inadequadas aos padrões de sucesso e felicidade estabelecidos em nossa cultura não é nova e nem obscura, restrita a uma meia dúzia de pensantes. Praticamente todos os poetas românticos escreveram sobre suas inconveniências existenciais em versos que inspiraram outros a buscar refúgio e conforto em uma espécie de paganismo beletrista que, se oferece mais tormento do que conforto para a alma de seus adeptos, pode ainda assim se pretender a uma tormenta conformada e, portanto, algo confortável.

A ideia de que a escrita ou, vá lá, a arte em um sentido mais amplo, seja o ofício de almas inadequadas aos padrões de sucesso e felicidade estabelecidos em nossa cultura não é nova e nem obscura.

A questão implica duas incongruências. A primeira: como manter uma arte inconformada caso o artista alcance o sucesso? De rappers que cantavam a pobreza da periferia e de repente se viram ricos e moradores de condomínios nobres a grupos de rock depressivos que obtiveram tudo o que suas letras prometiam jamais conseguir, resta ao fracassado bem-sucedido um simulacro de seus tempos inglórios ou um vazio de conteúdo que não passará incólume pelo implacável crivo da crítica.

A segunda: como manter o romantismo e idealismo da arte inconformada em uma época em que o próprio sinônimo de sucesso consiste em ser inadequado e incompreendido? O paradoxo encerrado em si não vislumbra possibilidades reais para fora da questão. Ainda assim, há quem tente, rejeitando inclusive o sucesso, a base de fãs tudo aquilo que, dirá o artista, ofusca e desvia o real significado de sua arte.

O poeta Ferreira Gullar dizia que a arte existe porque a vida não basta. O escritor francês Michel Houellebecq, por outro lado, dizia que faz-se arte por já estar, de alguma forma, cansado da vida. As duas afirmações sobre o propósito das intenções artísticas parecem antagônicas mas se aproximam em seu significado (não tão) subtextual: a inadequação para a vida, para mais ou para menos.

Mas talvez esse descompasso entre indivíduo e sociedade não seja algo exclusivo, raro e muito menos circunstancial.Talvez fale diretamente à natureza inconformada do homem, razão pela qual sempre se é capaz de consumir e apreciar arte, mesmo de uma posição de relativa estabilidade. Emprego, família, casa própria e algum livro do Baudelaire entre as estantes não é nenhum absurdo, pois. Aos que dizem prescindir da arte deve-se estar de olho atento sempre. Esses são os tipos mais entediantemente perigosos.

Tags: ArtecrônicaFerreira Gullarfracassolêdo ivoliteraturamichel houellebecqsucesso

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