A sensualidade, assim como o humor, envelhece a galopes. Não falo tanto da faixa etária sensual – embora algumas palavras sobre isso caibam nesse texto –, mas dos padrões estéticos que a regem. Digo isso porque dia desses reassisti ao videoclipe da música “My Humps”, do Black Eyed Peas, definitivamente uma mudança do paradigma da época, pouco mais de dez anos atrás.
O grupo pop, talvez o primeiro realmente especializado em fazer trilha sonora para campanhas publicitárias de TV, flertava com as batidas do funk carioca e mostrava a ostentação norte-americana de sempre, mas com seu pivô central, a cantora Fergie, em uma feminilidade agressivamente erótica. A música dizia qualquer bobagem sobre ela ser dotada de curvas, que ela chamava na letra de “lovely lady lumps” (adoráveis caroços de dama, algo que, pelo jogo de fonemas, talvez ficasse bom aos ouvidos de um falante nativo de inglês). Fergie está linda no vídeo, mas assista ao vídeo hoje e uma parte sua vai acha-la dotada de uma beleza nostálgica, quase como uma Brigitte Bardot da década passada.
Em primeiro lugar, Fergie está sensualizando de calças jeans, peça de roupa considerada ultrapassada em quase todos os clipes pops sensuais. O figurino alterna entre calça e sapato alto, saia prateada e boné preto com shortinho azul – esse último, o único capaz de encontrar eco nas novas tendências eróticas do mainstream. Repare também como a dança pré-twerk era relativamente calma e priorizava movimentos de braços e ombros ao de pernas e quadris. Claro, alguma expressão a metade inferior do corpo de Fergie mostrava, mas sempre de maneira subordinada às mãos, que pareciam indicar onde o olhar erótico deveria repousar a seguir.
Em primeiro lugar, Fergie está sensualizando de calças jeans, peça de roupa considerada ultrapassada em quase todos os clipes pops sensuais. O figurino alterna entre calça e sapato alto, saia prateada e boné preto com shortinho azul – esse último, o único capaz de encontrar eco nas novas tendências eróticas do mainstream.
Por último, Fergie comete a ousadia de ter cara de mulher na mesma época em que Britney Spears lançava “Toxic” e Avril Lavigne lançava “My Happy Ending”, cujo videoclipe exibia a artista cantando a música com uma boca infantilmente molenga em uma saia de tule rosa. Fergie não consegue deixar de fazer o estilo “mulherão” nem vestida de adolescente de boné e brinco grande de argola. Coincidência ou não, não se ouviu mais falar dela desde que Miley Cyrus andou nua em uma bola de demolição.
Fergie fez carreira solo, ensaiou um feminismo leve em “Big Girls Don’t Cry”, mas foi só isso. Eclipsada pelo empreendedorismo de seu companheiro de grupo, Will.I.Am., ocupa hoje um reino contraditório do pop que não é pop o bastante. Uma segunda divisão do pop, que ainda enche algum estádio aqui ou ali, mas sobre o qual não se debate à exaustão em todas as mídias. Pop ma non troppo. De novo, como o humor. Tente rir com algo do Casseta & Planeta de 1993 para entender os caminhos que levaram Fergie para fora da redoma do que é considerado erótico.