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Home Crônicas Yuri Al'Hanati

Sociedade da insônia

porYuri Al'Hanati
2 de setembro de 2019
em Yuri Al'Hanati
A A
Sociedade da insônia, crônica de Yuri Al'Hanati

Imagem: Pixabay.

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Les Claypool, um dos pouquíssimos ídolos que colecionei ao longo da vida, canta um trecho na música “Spaghetti Western” que poderia ser traduzida mais ou menos como: “tem uma coisa engraçada sobre os finais de semana quando você é desempregado. Eles não significam muita coisa, mas pelo menos você pode sair com seus amigos trabalhadores”. A razão pela qual os amigos trabalhadores só saem aos finais de semana é óbvia: longe de ser uma proibição condicionada, é muito mais o senso moral direcionado ao dever do trabalho que acautela a massa proletária carente de escapismo em dia útil. O trabalhador precisa acordar cedo, e para isso, uma noite bem dormida é fundamental.

Não é algo óbvio, mas um saber adquirido mediante conclusões duras, do tipo: eu realmente preciso desse emprego, não posso me dar ao luxo de uma noite mal dormida, já não sou mais tão jovem para aguentar uma noitada seguida de ressaca ou sono no dia seguinte. Quanto mais impregnado pelo sistema, maiores são tanto o senso de responsabilidade em não querer sair de casa e a contraditória urgência de sair, beber, extravasar. O trabalho massacra pela rotina e pela privação de diversões mais espontâneas.

Ok, aqui ao menos há uma regra compensatória. Dorme-se mal, mas festeja-se bastante. O que dizer, entretanto, ao insone, que entra em contenda com os lençóis e com o próprio corpo inconveniente sem tirar disso um minuto de satisfação sequer? Uma noite de insônia é a caloria líquida da fisiologia do sono: a mente computa bem e aproveita mal. Sem redenção, sem choro. F51 é o CID que médico nenhum vai se atrever a colocar em um atestado de um trabalhador normal – talvez para um controlador de voo ou cirurgião cardíaco, quem sabe. O resto que se vire com as pescadas, com a cabeça pesada, com a falta de atenção e o dominó de erros que caem em cadeia em decorrência disso.

Quanto mais impregnado pelo sistema, maiores são tanto o senso de responsabilidade em não querer sair de casa e a contraditória urgência de sair, beber, extravasar. O trabalho massacra pela rotina e pela privação de diversões mais espontâneas.

Produzir sob condições fisiológicas adversas, eis o arquétipo neoliberal. Trabalhe com sono, trabalhe cansado, trabalhe doente, trabalhe com uma caganeira monstruosa que te desidrate aos baldes por minuto, mas trabalhe. O que circunda a produtividade importa nada ou quase nada. Um funcionário que bata na mulher, chute o cachorro e seja movido a ressentimento e cocaína será mais valorizado do que um outro de moral ilibada, amoroso, abstêmio e bom amigo, caso o primeiro seja altamente eficiente e o segundo seja um insone emocional. A insônia não é problema de mais ninguém além do próprio insone.

Contornar é pior. Arrumar um emprego noturno, por exemplo, acredite, não resolve nada, porque tentar dormir durante o dia, enquanto pássaros e ônibus cantam lá fora, é inumano. Tomar remédio é rodar a roleta russa do paroxismo crescente. Alcançar o sono pode ficar cada vez mais caro e difícil, e retornar a um estágio livre de fármaco é um pesadelo. Resta, acredito, as terapias de bicho-grilo: meditar, fazer exercício, ficar cansado de propósito em vigília para que ao corpo não reste outra escolha a não ser ceder. Mas quem disse que é fácil? Dormir só é fácil na morte.

Tags: cansaçoCIDCrônicainsôniales claypoolprodutividaderesponsabilidadesonotrabalho

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