Uma notícia que li na última sexta-feira me deixou consternado. Dizia que o governo chinês iria proibir shows de strippers em funerais. É claro que o fato, até então desconhecido, de que havia show de strip-tease em funerais chineses, é melhor do que a notícia da proibição. A matéria explica que, de acordo com a crença chinesa, muita gente no funeral traz boa sorte e fortuna para o morto. Algo como um coro para cantar pra subir. Bem, a China enfrenta um problema de eficiente fertilidade há algumas décadas, e é natural supor que, em um cenário em que há, sem exagero nenhum de minha parte, gente pra caralho, um certo grau de indiferença e insensibilidade afete as sociedades chinesas em relação a morte, da mesma maneira como aniversários de amigos são facilmente matáveis por parte de pessoas extremamente populares. Se um chinês falta a um enterro, ele não teme, consciente de que semana que vem haverá outro para atender.
Uma notícia que li na última sexta-feira me deixou consternado. Dizia que o governo chinês iria proibir shows de strippers em funerais.
Com isso, a indústria dos funerais necessita se reinventar para manter as tradições orientais. Shows de strip-tease ao redor do caixão podem ser considerados saídas fáceis para um problema difícil, e até mesmo delicado, e parece ser uma ideia saída do brainstorming de uma reunião com todos os sobrinhos de donos de funerárias. Mas, como já mencionei, a insensibilidade e a superpopulação são fenômenos irmãos. O chinês é um povo pragmático (digo com tranquilidade de quem observa a quebra descarada de patentes) e sabemos do que o seu governo é capaz de fazer com a finalidade de se tornar a mais nova liderança mundial econômica, então não é muito de se espantar um chamariz dessa natureza.
Mas bem, agora há essa proibição. Ao que parece as autoridades que legalmente regem esse tipo de cerimônia consideram shows de strippers em funerais um símbolo da decadência social. Afinal de contas, strip-tease e tradições chinesas são incompatíveis, concluem. Eu digo que é o contrário. Strip-tease no funeral é a solução encontrada para manter viva uma tradição milenar na era das distrações em que vivemos. Mutatis mutandis, é a mesma lógica que regeu a renovação carismática da Igreja Católica e as inúmeras e estrambólicas atrações do novo pentecostalismo. É justo lembrar que, não muito tempo atrás, missa era rezada em latim e dançar na igreja era um sacrilégio sem tamanho. Corta para o presente: temos heavy metal cristão, a igreja Bola de Neve e até mesmo uma igreja evangélica destinada a pessoas gays e transexuais, segmentos da população tradicionalmente execrados por sacerdotes e fieis. Os irlandeses celebram seus mortos com bebedeiras homéricas ao redor do caixão, e diante disso, que mal há em algumas coxas balançando em trajes sumários pelo bem dos mortos? Um pouco de compaixão e um pouco de dança do colo não fazem mal a ninguém.