Minha mãe sempre me disse que, qual fosse o modelo de trabalho que escolheria para a minha vida, teria que lidar com os revezes de cada um. Ela, que é tanto funcionária pública quanto autônoma, sabe enumerar muito bem quais são os prós e contras do trabalho sem patrão e da função registrada: de um lado, flexibilidade de horário, mais-valia preservada e pro labore ao gosto e à competência pessoal; do outro, férias, aposentadoria, renda fixa, inclusive nos meses de vacas magras. Os dois modelos têm seus atrativos, e neles se opõem.
Mas a verdade é que seja o emprego público ou o trabalho por conta, a opção será meramente circunstancial. Uma hora queremos uma coisa, outra hora, outra coisa, e isso porque a vida às vezes urge por férias remuneradas, outra hora clama por aumento imediato ou por uma folga emergencial. Qualquer um dos caminhos levará a um terrível beco sem saída que fará lembrar as renúncias inerentes à escolha. Juntar dinheiro para janeiro, fevereiro e março, bater ponto e se submeter a um superior talvez menos qualificado do que você, viajar e correr o risco de perder clientes, ter um aumento recusado. Paciência.
Assim como a minha mãe, também optei pelos dois caminhos. Trabalho de casa prestando serviços e tenho destino fixo durante a semana em uma determinada faixa horária. O problema é que, neste arranjo, acaba-se com as vicissitudes de ambos, sem falar no acúmulo de trabalho. Não sei porque faço isso, talvez seja o medo de ficar sem um ou sem o outro benefício, mas precisar, não precisava, eu acho.
Não sei porque faço isso, talvez seja o medo de ficar sem um ou sem o outro benefício, mas precisar, não precisava, eu acho.
No momento, preciso trabalhar. E amanhã, preciso trabalhar de novo. E estou gripado. Bater ponto com o nariz escorrendo, passar o dia grogue e com dor no corpo, chegar em casa e trabalhar mais porque as coisas não vão se entregar sozinhas. A gripe é o coringa, o super-trunfo dos revezes. Debilitante a ponto de nutrir o desejo de morte, mas não o bastante para justificar uma ausência. Causa uma má impressão avisar que vai faltar por estar gripado, mas também causa a coriza e o semblante de defunto diante dos colegas de trabalho. Eis, pois, nêmesis do celetista, do estatutário e do profissional liberal. Não importa o caminho escolhido.