Peço a você, leitor entediado desta entediante segunda-feira, a acompanhar seu cronista, em seu exercício hebdomadário de divertimento em forma de texto, em uma exibição de um videoclipe tardio de uma banda que ele costumava acompanhar há duas décadas atrás.
Veja bem, houve um período, no começo do século, em que esse tipo de banda surgiu com tudo. O importante era ser pesado, ser jovem, misturar estilos e o que mais a transgressão da criatividade permitisse. Mas essa banda, em específico, nunca colou. Sempre pareceram, mesmo aos fãs da época, impostores limpinhos, proselitistas do bullying, ostentando os elementos da cultura white trash – bonés de baseball, regatas de basquete e tênis de skatista – como o próximo valentão do pedaço. As letras seguiam a linha: um libelo de autoafirmação vindo de bocas que já pareciam mais graves pela idade do que o visual sugeria.
O clipe em questão foi lançado oito anos atrás. Estamos atrasados na audiência, mas eles estão mais atrasados ainda. O vocalista ainda se veste como um adolescente e o guitarrista ainda usa pintura corporal. Talvez ele quisesse que todos os outros membros da banda se pintassem também, mas nunca achou tal banda para ingressar. Não deixou que isso o abatesse, entretanto. Ok, vamos lá. Temos carros esportivos, alguém fazendo manobras de skate e garotas bonitas dançando de biquíni.
O clipe em questão foi lançado oito anos atrás. Estamos atrasados na audiência, mas eles estão mais atrasados ainda. O vocalista ainda se veste como um adolescente e o guitarrista ainda usa pintura corporal.
Esteticamente se aproxima muito dos comerciais de cigarro dos anos noventa, mas aqui estamos falando da elevada arte que é a música. Uma das garotas está usando luvas de boxe brancas, e o vocalista, vez ou outra, ostenta uma luva brilhante em uma mão, como o Michael Jackson. É bastante luva para um clipe de rock, sem dúvida nenhuma. As informações sobre o clima dentro do universo do videoclipe também parecem confusas. Há músicos tocando com regatas e há músicos tocando de moletom e gorro. O termômetro pode estar marcando literalmente qualquer coisa a esse ponto.
Ainda há a questão de que existe muitos dedos do meio sendo mostrados, mas também há coreografia. Sim, coreografia. O vocalista dança junto de três lindas garotas que se vestem como ele. Os mesmos bonés e tudo. Existe uma linha cruzada, desta forma, sobre o elemento erótico do clipe. Querem os produtores que nos sintamos atraídos pelo vocalista no mesmo grau em que vemos as belas garotas com as mesmas roupas dançando com ele? O que Bataille diria sobre isso? Não temos tempo para pensar, a batida da música continua e mais elementos vão passando. Há um sujeito vestido como Indiana Jones simulando um ato sexual com um carro amarelo, um skatista e aquele cara que pinta o corpo, agora com uma segunda pintura corporal. Muitos símbolos a serem decifrados. A letra continua a ladainha de vinte anos atrás, apenas palavras diferentes. Bacana. A batida é boa, tem um DJ, tem um baixão, super legal.
Mas algumas coisas precisam ficar no passado. Ufa.