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A epidemia dos poetas de Instagram

Coluna analisa como a lógica dos algoritmos prioriza a produção em massa de poesia genérica e unidimensional.

porLuciano Simão
26 de abril de 2021
em Literatura
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Vários ícones do Instagram

Imagem: Reprodução.

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Eles estão por todas as partes. Em sua maioria homens, apaixonados por Bukowski e máquinas de escrever, por café e fontes vintage: os poetas de Instagram. Muitos acumulam milhares (até milhões) de seguidores, compartilhamentos e curtidas na rede social; outros correm desesperadamente atrás da mesma fama. Independentemente do grau de sucesso, todos são filhos do mesmo fenômeno: a transformação da literatura na era digital.

A literatura, como todas as artes, tende a se transformar com os tempos. Dos épicos transmitidos pela tradição oral aos manuscritos medievais, das obras produzidas em larga escala graças à invenção de Gutenberg às técnicas experimentais das vanguardas que questionaram a própria definição do que é literatura, essas metamorfoses constantes são parte essencial da história de toda forma de arte.

É natural, portanto, que a revolução da era digital também tenha trazido mudanças à nossa concepção de literatura, e as ferramentas digitais têm alterado até mesmo nosso modo de consumo. O fenômeno dos ebooks é um exemplo disso: muitos dos defensores mais ferrenhos das obras físicas já se renderam à comodidade (e ao preço mais palatável) dos livros digitais.

A ditadura do algoritmo

Neste contexto, não é de se surpreender que a poesia tenha se tornado o gênero literário mais propagado no Instagram –– e os motivos por trás da epidemia desses poetas digitais extremamente prolíficos são diversos.

O Instagram é, por natureza, uma rede que prioriza o visual (inclusive, a própria imagem já está ficando ultrapassada, e o audiovisual tem ganhado cada vez mais espaço). Na plataforma, as páginas de literatura tendem a ser voltadas à poesia, que costuma trazer um conteúdo textual mais curto, mais replicável e compartilhável. É difícil encontrar na rede textos maiores em formatos como crônica ou conto, pois são poucos os usuários habituados à leitura de conteúdo mais longo nas plataformas digitais.

Não é de se surpreender que a poesia tenha se tornado o gênero literário mais propagado no Instagram.

Mas talvez o principal motivo por trás da proliferação de uma poesia homogeneizada e unidimensional seja a ditadura cada vez mais rígida dos algoritmos que regem a hierarquia do conteúdo propagado na rede. Há, inclusive, toda uma ciência voltada a decifrar suas fórmulas com o objetivo de produzir conteúdo capaz de maximizar o alcance favorecido pelos algoritmos.

O problema é que a necessidade da produção constante para cumprir as regras dos algoritmos tende a prejudicar a qualidade de qualquer trabalho artístico. Afinal, quem não cumpre a periodicidade arbitrária determinada pelos engenheiros sociais do Facebook é relegado à irrelevância. Não há, portanto, tempo para uma devida revisão e retrabalho, que pode ser um processo extremamente valioso para a produção de um conteúdo literário de maior profundidade e permanência.

O marasmo da mesmice

Graças a essa padronização obrigatória, é fácil apontar características em comum entre os poetas mais seguidos na rede. Uma das principais marcas é a priorização do verso livre. Muitos poetas de Instagram se limitam a produzir imitações baratas de Paulo Leminski, como se bastasse dividir uma frase em prosa em linhas para transformá-la em poesia de grande significado.

Ainda, a influência de poetas boêmios como Bukowski é clara: o poeta de Instagram não é apenas alguém que escreve, mas é um personagem escritor, que performa uma determinada estética e comportamento, que se envolve em uma aura autoconcedida de grande sensibilidade e sabedoria acerca dos pormenores secretos da vida. O termo esquerdomacho é frequentemente aplicado a alguns poetas da rede e não é sem razão, pois seus textos perpetuam papéis de gênero tradicionais e ideias ultrapassadas do que é masculinidade e feminilidade.

Nos versos padronizados dos poetas de Instagram, há a predominância dos mesmos sentimentos básicos: saudade, tesão, amor, gratidão, amizades, desilusões e outras emoções ligadas ao convívio social. Além disso, a repetição das mesmas imagens é constante: bares, copos de cerveja vazios, cigarros meio fumados, relacionamentos amorosos interrompidos e uma melancolia barata contrastada com um sentimento geral de contentamento com o estado do mundo.

Nesse marasmo da mesmice, a poesia no Instagram tem se tornado um gênero uniforme e pouco instigante, tanto em termos estruturais como temáticos e imagéticos. Na ditadura do algoritmo, o mínimo denominador comum prevalece: o importante não é que o poema questione, mas que o conteúdo seja facilmente digerível e compartilhável.

Isso não quer dizer que não existem escritores talentosos que têm explorado o formato específico da rede para produzir trabalhos de imensa qualidade e complexidade, muitas vezes transitando entre as artes plásticas e a literatura com obras interartísticas que são a essência do que há de melhor na arte da era digital. Contudo, devido à complexidade do trabalho envolvido, esses perfis dificilmente têm o mesmo alcance do imitador genérico de Bukowski, que é capaz de produzir mil textos por dia sem se preocupar com a coesão do trabalho final.

Talvez seja inocência da minha parte querer que esse cenário se transforme, mas acredito veementemente nisso e repito: todos têm a ganhar com o fim da epidemia do poeta digital.

Tags: algoritmosAnálisebukowskiInstagramLiteraturaPaulo LeminskiPoesia

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